Alimentado pela agropecuária e pelo início da reação do comércio, o PIB do Rio Grande do Sul cresceu 2,5% no segundo trimestre deste ano, em comparação com igual período de 2016. Os dados apresentados ontem pela Fundação de Economia e Estatística (FEE) também foram recalculados para os três primeiros meses de 2017 devido à revisão para cima da safra gaúcha pelo IBGE. A atividade de janeiro a março passou da estabilidade (0%) para 1,5%. Com isso, o Estado parece sair da recessão de forma mais rápida do que o restante do país. O crescimento acumulado no semestre foi de 2,1%, enquanto que a variação no Brasil foi nula.
O avanço do PIB entre abril e junho foi o maior desde os 3,6% do primeiro trimestre de 2014. Em seguida, o Rio Grande do Sul mergulhou na crise nacional e iniciou uma sequência de 11 trimestres consecutivos de retração.
Com mais uma supersafra colhida no Estado, a agricultura teve crescimento de 7,9% no segundo trimestre. Na indústria, os números ainda foram negativos. A queda foi de 0,3%, influenciada principalmente pela construção civil (-6,8%), apesar de a indústria de transformação passar para o terreno positivo (2,8%). A boa notícia veio do comércio, que teve alta de 2,9% e empurrou o setor de serviços, de maior peso na economia, a registrar avanço de 0,5%.
- Com a safra boa e a indústria melhorando desde o final do ano passado, o que tivemos de diferente neste trimestre foi o comércio, com crescimento bem acima do país (0,9%) - aponta o coordenador do Núcleo de Contas Regionais da FEE, Roberto Rocha.
MESMO EM QUEDA, CONSTRUÇÃO CIVIL VÊ SINAIS DE RETOMADA
Saques de contas do FGTS, inflação controlada, juros em queda, mercado de trabalho mais estável e o efeito da renda agrícola no comércio influenciaram o resultado, diz o especialista. Há outro fator que gera efeito estatístico, observa a economista-chefe da Fecomércio-RS, Patricia Palermo.
- Se olharmos toda a série do comércio, estávamos há dois anos com quedas em relação ao mesmo período do ano anterior. Nesse caso, qualquer crescimento gera impacto positivo - observa Patrícia, que aponta o menor receio de desemprego, transformado em confiança para ir às compras, como uma das causas para melhora.
Grande empregador, a construção civil segue no negativo. Apesar da queda expressiva de 6,8%, há sinais de que o pior já passou, diz o presidente do Sindicato das Indústrias da Construção Civil do Estado (Sinduscon-RS), Ricardo Sessegolo. Em 14 trimestres desde 2014, só dois foram positivos.
- Parou de piorar e acho que está começando a virar. Entre os setores, a construção é a última a reagir - avalia Sessegolo.
O que esperar para o restante do ano
Apesar do avanço de 2,1% no primeiro semestre, o resultado fechado de 2017 deve ser menor do que o do ano passado, ressalta o coordenador do Núcleo de Contas Regionais da FEE, Roberto Rocha. A maior contribuição da agropecuária já passou. O terceiro trimestre é quando a indústria tem o maior peso no resultado. No quarto, é a maior participação do comércio.
- Vai depender da indústria e dos serviços para sabermos se vamos ficar mais ou menos perto dos 2% - avalia Rocha.
Para o restante do ano, contam a favor um ambiente político que pode não estar tão carregado quanto no segundo trimestre, além da manutenção de fatores como estabilização e pequena queda das taxas de desemprego, corte de juros e inflação baixa, o que deixa mais renda disponível para a população consumir. Notícias como o retorno do terceiro turno da unidade da GM em Gravataí (leia ao lado) também são sinalizações positivas.
Para o comércio, as perspectivas são consideradas melhores pela manutenção dos fatores que ajudaram no segundo semestre - à exceção da liberação do FGTS de contas inativas - e também pela baixa base de comparação, destaca a economista-chefe da Fecomércio-RS, Patricia Palermo, que ressalta a recuperação da renda
- A massa real de rendimentos no segundo trimestre em relação ao mesmo período de 2016 cresceu 3,25% - destaca.
O presidente do Sindicato das Indústrias da Construção Civil (Sinduscon-RS), Ricardo Sessegolo, avalia que, no setor, apesar da percepção de que o fundo do poço passou, reação mais expressiva deve ocorrer somente a partir do ano que vem.
- As empresas estão preparando muitos lançamentos para 2018 e 2019 - avisa Sessegolo.
VARIAÇÃO DO PIB TRIMESTRAL (ver imagem)
GM retoma terceiro turno e abre 700 vagas
A General Motors (GM) vai retomar o terceiro turno no complexo de Gravataí, na Região Metropolitana. O período havia sido suspenso no auge da crise econômica, no fim de 2015. Com isso, a montadora já começará a contratação de 700 funcionários, conforme informado ao presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Gravataí, Valcir Ascari. A retomada ocorrerá em breve.
Além disso, outros mil postos de trabalho serão abertos nas sistemistas que são fornecedoras da GM e fazem parte do complexo. Segundo o secretário estadual de Desenvolvimento Econômico, Márcio Biolchi, há aumento na demanda no mercado brasileiro pelos modelos Ônix e Prisma, que são fabricados na unidade. Recentemente, a GM anunciou investimento de R$ 1,4 bilhão na fábrica de Gravataí.
Os interessados às vagas poderão se credenciar até o dia 31 de outubro no site da Chevrolet, na seção "Trabalhe Conosco", selecionando o cargo pretendido. As novas vagas concentram-se nas atividades de operador de produção e técnico de manutenção. A empresa também procura pessoas com deficiência.
Uma reunião será realizada hoje com os sistemistas para tratar do aumento da produção. Ascari espera confirmar o número de vagas no encontro e criar uma central para receber currículos de interessados nos postos.
O setor de veículos sofreu bastante com a crise. As vendas despencaram. No entanto, 2017 traz duas boas notícias para o segmento. As exportações de automóveis dispararam e, inclusive, puxaram os dados totais de embarques do Rio Grande do Sul. Além disso, houve aumento recente de vendas no mercado brasileiro, o que aparece no levantamento de emplacamentos do Sindicato das Concessionárias do Rio Grande do Sul.
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