O excelente caderno Dinheiro de ZH do último domingo expõe bem o que aconteceu com a economia gaúcha nas últimas décadas e quais suas perspectivas. No entanto, a tonalidade crítica não pode bandear-se para um matiz pessimista. É certo que já ocupamos melhores rankings na participação no PIB nacional e que o Estado se endividou a ponto de perder sua capacidade de investimento. Mas é preciso relatar também o grande poder de reinvenção e reestruturação da economia gaúcha.
Existem diversos movimentos concretos de geração de novas indústrias e de adensamento tecnológico das cadeias produtivas atuais que não estão contemplados no cálculo do PIB. O analista, alimentado por seus dados de painel, não percebe o real movimento que a economia regional está atravessando. Estamos em uma fase de transição na qual a economia do conhecimento se tornará o centro do desenvolvimento da matriz de produção no nosso Estado. A pesquisa das universidades e os parques científicos e tecnológicos devem ser escaneados pelo radar dos analistas para conhecer nosso potencial econômico. É certo que a métrica do PIB não mente, mas existe um PIB invisível sendo gerado por novas tecnologias, patentes e ecossistemas de inovação que não são mensurados pela tradicional metodologia do PIB. Se olharmos há cinco ou seis anos atrás, a energia eólica como uma nova indústria no Rio Grande do Sul era vista como uma possibilidade hilária para muitos. Pois foi gestado em uma universidade, a PUCRS, o maior plano de negócios da história do Estado, com faturamento já consolidado de R$ 1,7 bilhão e com perspectivas de geração de 20 mil empregos qualificados nessa nova cadeia produtiva. Falar que foi a universidade na verdade é limitar o fato. Foi a iniciativa privada mais a universidade mais o governo que o geraram. E aqui está o novo DNA do desenvolvimento com base na economia do conhecimento: a tripla hélice governo + universidade + empresas. E temos inúmeros exemplos de casos no Rio Grande do Sul em seus diversos sistemas de inovação.
Os dados computáveis no PIB não contemplam as informações suficientes para delinear um novo roteiro para o desenvolvimento do Estado. Até a própria divisão da riqueza em setores primário, secundário e terciá-rio é muito contestável. Para exemplificar: alguém ainda poderia chamar o agronegócio de “primário”? Existem muitas tecnologias embarcadas e a embarcar em várias redes de produção. Falta-nos um grande projeto que contemple o estímulo continuado ao empreendedorismo e à inovação. Ele passa por inovações institucionais, jurídicas e, sobretudo, de financiamento para que pequenas empresas se tornem grandes empresas, e para que as médias e grandes se tornem globais. Falo da ausência de mecanismos concretos que tornem o novo ambiente de inovação endêmico às tradições gaúchas, estimulando os diversos ativos intangíveis nascidos nas centenas de pesquisas em desenvolvimento no Estado a transformar-se em novas empresas e indústrias aqui. Hoje, infelizmente, há vazamentos do nosso PIB. Como fizemos com a economia rural em décadas anteriores, estamos gerando PIB em outros Estados e países com o conhecimento fomentado e gerado aqui.
*Diretor da Agência de Gestão de Empreendimentos da PUCRS, presidente do Conselho Regional de Economia do Rio Grande do Sul
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