Adriana Lampert
Um ano complexo, com períodos de oportunidades para empresas bem preparadas para sobreviver a um cenário extremamente desafiador para o varejo. Desta forma, lojistas gaúchos, que se reuniram na manhã de ontem no Teatro do CIEE para debater o cenário econômico pós-eleições no País, definiram suas perspectivas para 2015. "Certamente, haverá luta pelo share de mercado", sentenciou o vice-presidente de Marketing da Câmara de Dirigentes Lojistas de Porto Alegre (CDL-POA), Jose Rezende. Entre as projeções apresentadas durante o evento, o "peso da taxa de juros e da inflação" deve influenciar para que, nos próximos 12 meses, os lojistas enfrentem "mais do mesmo", frisou o economista Alexandre Schwartsman, ex-diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central do Brasil. "Sem uma mudança relevante na política econômica, não há como imaginar resultados diferentes do que se tem observado", criticou.
Schwartsman defendeu que a estimativa é de que a demanda de consumo vai crescer pouco, e de que a inflação vai afetar a renda das pessoas. "Não é momento para investimento em lojas, mas sim de esperar que as coisas melhorem", opinou. O economista argumentou que o desempenho econômico do Brasil, nos últimos quatro anos foi, "medíocre", e apontou o crescimento de cerca de 1,5% e a inflação perto de 6,5% como entraves para a economia.
"Para o varejo, se o governo aumentar juros para conter a inflação será uma iniciativa ruim, pois vai frear o consumo", contrastou o presidente da rede de lojas Quero-Quero, Peter Furukawa. Segundo ele, a empresa está tomando medidas para melhorar o cenário de atuação no mercado, mesmo registrando baixa histórica de inadimplência em suas unidades. "Mas é porque estamos mais concentrados em cidades do Interior. Nas capitais, já se vê muita gente endividada e inadimplente."
Neste cenário de pré-crise visualizado pelos empresários do varejo, provavelmente haverá queda de vendas e de margens dos lojistas, aponta Rezende. O diretor da CDL diz que é o momento de os empresários buscarem operar melhor, "fazendo mais com menos", para obter maior rentabilidade por loja. Segundo Rezende, um dos maiores desafios para os empresários de varejo será inovar para conquistar a atenção dos consumidores. Já o presidente da rede de Lojas Renner, José Galló, destacou que a estratégia de atuação do grupo é sempre "a mesma" para bons e maus cenários. "O que se faz são ajustes operacionais", disse, ao argumentar que o setor deve ser otimista, mas também pragmático.
"No caso da Renner, fecharemos o ano com lojas em todos os estados brasileiros, e é com isso que enfrentaremos o momento econômico atual", garantiu Galló. No entanto, o empresário ponderou que será preciso reduzir negócios. "A demanda represada acabou e voltaremos a uma normalidade de consumo", opinou. Galló ainda alertou para a necessidade de o governo, juntamente com empresariado e sindicatos, "encararem a realidade econômica do País, que não é boa". "Os índices não apontam para uma boa direção. É hora de, independentemente de ideologias políticas, partir para o diálogo." Segundo ele, apesar de existirem pelo menos 15 problemas econômicos que exigem mudanças no País - como a questão da "pesada e complicada carga tributária" e da necessidade de uma reforma fiscal -, a Renner não deixará de expandir nos próximos anos, mesmo que de forma moderada.
Único otimista, o presidente do grupo O Boticário, Artur Grynbaum, disse que a empresa prospectou várias ações para o período de 2008 a 2018 e segue investindo. "Quem não espera um bom futuro, não faz isso. Mas acredito que a presidente Dilma deve mudar a fórmula de seu governo, pois o País precisa de reformas política, tributária, e trabalhista." Grynbaum acredita que o setor pode dar a volta por cima e ter um bom desempenho em 2015.
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