Em meio ao momento de turbulência política nacional, boas notícias vêm da economia. O Produto Interno Bruto (PIB) no Rio Grande do Sul foi positivo em três variáveis. No comparativo com igual período do ano passado, a soma do primeiro semestre mostrou a elevação do PIB em 2,1%, com 2,5% no segundo trimestre. Se comparado o segundo trimestre aos três primeiros meses do ano, a alta foi de 0,7%. Os dados foram divulgados ontem, em Porto Alegre, pela Fundação de Economia e Estatística (FEE) do Estado e motivam as entidades comerciais e industriais da região.
RECUPERAÇÃO
Para o presidente da Associação Comercial, Industrial e de Serviços (AGI) de Novo Hamburgo, Campo Bom e Estância Velha, Marcelo Clark Alves, o crescimento no PIB mostra a recuperação da economia. "Mostra que a economia está retomando. Também é reflexo da inflação que caiu e da expectativa que as taxas de juros continuem caindo, tudo isso vai contribuindo para geração de empregos, para a retomada de setores corno o da construção civil.
É pouco para o que agente precisa, mas é um sinal positivo. Estes números, às vezes, surpreendem, já que tem tanta coisa negativa na questão política", avalia. No comércio varejista, o cenário também é otimista, como destaca o presidente do Sindilojas Novo Hamburgo, Remi Scheffler. "É um quadro alentador. Depois de tantos trimestres em curva descendente, estamos começando a perceber que a economia está apresentando um quadro ascendente. Este incremento no comércio de 2,9% no trimestre anima o comerciante, ainda mais que o último trimestre é o melhor para o comércio."
Expectativa ainda melhor para 2018
Ainda segundo Scheffler, os dados também animam a fazer mais contratos temporários e definitivos. "Este quadro de positivismo já vinha sendo acenado pela indústria de bens e serviços", diz o presidente do Sindilojas. Já o presidente da Câmara dos Dirigentes Lojistas de Novo Hamburgo, Gilberto Kasper, associa o crescimento, entre outras coisas, à liberação do FGTS. "Concordamos com as informações e sentimos já no comércio esta recuperação. Tem outras questões que motivaram, que é liberação do FGTS, as contas tiveram um impacto positivo. Também se passou períodos em que se diminui consumo, como férias e recesso escolar, e alguns pagamentos. Além disso, tivemos alguns dias de frio e chuva, não foram muitos, mas intensos. Achamos que a pior fase da economia passou e que números serão ainda melhores no próximo trimestre."
Agropecuária: principal influência
A principal influência no desempenho positivo do PIB gaúcho veio da agropecuária, que cresceu 11,7% no semestre. Entretanto, outros dois setores também ajudaram a fazer a diferença, ainda mais se comparados aos números brasileiros. "O diferencial foi o desempenho do comércio no setor dos serviços e da indústria de transformação no setor da indústria, significativamente superior ao desempenho nacional nessas áreas", destaca o coordenador do Núcleo de Contas Regionais (NCR), economista Roberto Rocha, exaltando os 1,9% positivos da indústria de transformação e o 1,3% do comércio, ante o 0% do País nos dois segmentos. Durante a divulgação do PIB, a FEE também apresentou a ferramenta digital PIBVis, novo aplicativo do Visualiza FEE, com os dados completos do indicador disponíveis no site da Fundação.
AS MOTIVAÇÕES DO CRESCIMENTO NOS DIFERENTES SEGMENTOS
De acordo com o economista Roberto Rocha, as motivações para o crescimento no semestre da indústria de transformação se devem à indústria do fumo, que teve alta de 40,2%, junto com máquinas, motores, combustíveis e produtos de metal. "Associamos isso à capacidade exportadora da nossa indústria, tanto como fornecedora para o Brasil quanto para o exterior, que é o caso dos automóveis, com +15,7%", assinala. Na análise sobre os bons números do comércio, o economista justificou os fatores para o saldo positivo. "A melhoria no mercado de trabalho, com taxas menores de desemprego que no Brasil, a liberação de saldo do FGTS, a taxa da inflação, que permite com preços menores o aumento da renda e compra de outros itens, além do efeito da agropecuária nas pequenas propriedades, a melhoria da renda no campo, que impacta no comércio de municípios do interior", ilustra Rocha.
EXPECTATIVA SEGUE POSITIVA, ESPECIALMENTE NO COMÉRCIO
Se no primeiro semestre a agricultura foi a principal alavanca para o PIB, em função das safras, nos próximos seis meses a força desse setor tem tendência natural de queda. Contudo, Roberto Rocha mantém o otimismo com o que vem pela frente. "Se formos analisar o desempenho do segundo trimestre da agropecuária gaúcha, não foi tão bom quanto o do Brasil. E já tivemos da indústria de transformação e do comércio uma contribuição muito forte neste semestre. A questão é avaliarmos as expectativas que esses setores mantenham esse desempenho no segundo semestre e em taxas positivas. Não temos sinal de reversão", enfatiza. E ilustra onde essa projeção otimista se sustenta. "O terceiro trimestre é geralmente o de melhor desempenho da indústria de transformação, com formação de estoque para o final do ano, a produção de máquinas, levando em conta a própria Expointer. Já o comércio tem no último trimestre do ano, com o Natal e compras, o seu melhor desempenho. Então a expectativa é que o desempenho seja positivo, talvez não em taxas tão vigorosas pela redução na contribuição da agricultura, mas com crescimento", sublinha Rocha.
A QUEDA NO SETOR COUREIRO-CALÇADISTA
O saldo negativo do PIB nas atividades de couros e artefatos, artigos para viagem e calçados, com queda de -8,3% no segundo trimestre, também recebeu análise de Roberto Rocha. "Foi um dos poucos setores que apresentou taxas positivas entre 2015 e 2016, em cima da desvalorização cambial, e agora temos um processo de maior valorização cambial, o que dificulta a ampliação da produção. E isso pode estar dificultando essa expansão nessa conjuntura", relativiza o economista. De acordo com o presidente-executivo da Abicalçados, Heitor Klein, "é importante celebrar indicadores positivos, mas infelizmente a abertura dos dados indicará que esse crescimento vem do setor agrícola, o que é bom, mas não contempla a economia como um todo, para que a comemoração seja completa".
ECONOMIA E POLÍTICA
Questionado sobre um possível descolamento da economia das tsunamis políticas diárias do País, o que explicaria supostamente o crescimento do PIB, Roberto Rocha pondera. "E uma questão muito difícil. A gente tem que tentar estabelecer quais canais exatamente acabam influenciando a economia. Não vimos no momento nenhuma decisão de política econômica que tenha sido revertida ou mudança brusca devido às questões políticas", argumenta.
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