Mais dependente dos efeitos diretos e indiretos do agronegócio do que o Brasil como um todo, o Rio Grande do Sul deverá sofrer maior impacto da queda na produção do campo em 2018. Sem fazer projeção numérica, o economista da Fundação de Economia e Estatística (FEE) Martinho Lazzari argumenta que a expansão da economia gaúcha deve ser menor do a que será vista nacionalmente – pela última pesquisa Focus, a expectativa dos analistas de mercado é de que o PIB nacional cresça 2,7% neste ano.
Segundo Lazzari, que trata sobre o tema na edição de janeiro da Carta de Conjuntura da instituição de pesquisa, o ano de 2017 significou a retomada da economia no Estado e no País após longo período de recessão, mas ainda em ritmo bastante lento.
“Para 2018, a expectativa é que o movimento siga, mas novamente lento, muito aquém de taxas que recuperem o que se perdeu na recessão”, afirma o economista. No caso do Rio Grande do Sul, a redução na produção do campo se torna um fator de preocupação, porque a agropecuária responde por cerca de 10% do valor adicionado, frente a cerca de 5% na economia brasileira.
Além disso, o agronegócio tem também, aqui, um impacto indireto mais forte nas atividades industriais e mesmo no comércio. Segundo o último levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a única entre as principais culturas de verão do Estado que teve um aumento na área plantada foi a soja, com expansão de 1,7%.
O milho (-9,5%) e o arroz (-2,1%), porém, vão na contramão. Mais do que isso, o principal entrave vem da produtividade, com quedas, respectivamente, de 8,3%, 3,9% e 3,6%, que resultarão em diminuição na produção de grãos no Estado da ordem de 6,7% na soja, 13,1% no milho e 5,6% no arroz. “Já começamos o ano sabendo, portanto, que não haverá uma contribuição positiva da agropecuária para o PIB”, comenta o pesquisador.
A notícia é ruim também para os setores industriais ligados ao desempenho agrário, como o de máquinas e equipamentos. Apesar disso, a indústria de transformação gaúcha conta com uma expectativa otimista quanto às exportações, graças a um aumento esperado de 4% no comércio mundial, segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), e da aceleração nas vendas para a Argentina iniciada no ano passado, que beneficia, por exemplo, a indústria automotiva.
Para o cálculo do PIB, há outro fator positivo para a indústria, embora menos ordinário: a volta à operação da nova planta da CMPC Celulose Riograndense, em Guaíba, que ficou três meses parada em 2017, deverá contribuir com grande aumento nas vendas externas no segundo semestre de 2018.
Já para o comércio, que voltou a crescer em 2017, após dois anos de queda, Lazzari prevê boas perspectivas em relação ao crédito, com a queda nos juros, mas ressalta que outros movimentos freiam o entusiasmo. O principal é o mercado de trabalho, que não mostra recuperação principalmente no que toca aos rendimentos dos trabalhadores. Além disso, a própria queda na produção agrícola também ajuda a diminuir as moedas nos bolsos dos gaúchos, especialmente nas cidades do Interior.
Segundo Lazzari, há ainda incertezas que podem mudar as perspectivas durante o ano. Uma delas, claro, é o cenário político. Outra é o nível dos investimentos, ainda incerto, e que depende, até certo ponto, do próprio desenrolar político.
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