27/03/2014
Valor Econômico
Brasil | Pág. 3
Clipado em 27/03/2014 14:03:24
Em Porto Alegre, população ocupada e renda crescem sem saltos de inflação

A expansão demográfica abaixo da média brasileira e o crescimento da população ocupada acima da evolução do contingente de pessoas em busca de trabalho têm levado a região metropolitana de Porto Alegre a registrar, há vários meses, o menor índice de desemprego do país. A renda dos trabalhadores da região está subindo acima da média nacional, mas sem provocar saltos inflacionários, graças principalmente à produção de alimentos no Rio Grande do Sul.

Na Pesquisa Mensal de Emprego (PME) do IBGE referente a janeiro, Porto Alegre registrou desemprego de 2,8%, o menor patamar da série histórica para o mês e 0,7 ponto percentual abaixo do mesmo período de 2013. Na média das seis regiões metropolitanas pesquisadas (São Paulo, Rio, Belo Horizonte, Salvador e Recife, além da capital gaúcha), o desemprego recuou de 5,4% para 4,8% na mesma comparação.

A última vez que a região metropolitana de Porto Alegre não registrou a menor taxa de desemprego, segundo o IBGE, foi em março de 2012 - o posto foi ocupado por Belo Horizonte (5,1%) e a taxa em Porto Alegre atingiu 5,2%. Em outubro de 2012, as duas capitais registraram juntas o índice mais baixo (3,9%). Os dados relativos à pesquisa de emprego do IBGE de fevereiro serão divulgados hoje.

A Pesquisa de Emprego e Desemprego realizada pela Fundação de Economia e Estatística (FEE) do Rio Grande do Sul indica que a taxa de desocupação em Porto Alegre recuou para 5,6% em fevereiro, ante 6,2% no mesmo mês de 2013. Foi o menor índice desde o início da pesquisa, em 1992. O estudo é realizado em convênio com o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) e a Fundação Seade.

Segundo o economista Raul Bastos, da FEE, a abertura de mais vagas de trabalho não é responsável pelo baixo desemprego em Porto Alegre. Em fevereiro deste ano, por exemplo, o contingente de ocupados atingiu 1,787 milhão, 0,4% abaixo do mesmo mês do ano passado e 0,2% acima de janeiro. Na média de 2013, quando o Produto Interno Bruto (PIB) do Estado cresceu 5,8%, bem mais do que o dobro do consolidado do país, o número de ocupados avançou apenas 0,4% sobre 2012, para 1,778 milhão.

Para Bastos, que a partir de agora prevê apenas quedas "marginais" do desemprego na região, os principais fatores responsáveis pela taxa reduzida de desocupação na região são o lento crescimento populacional (de 0,49% ao ano de 2000 a 2010 ante a média nacional de 1,17%) e o aumento da proporção de jovens que apenas estudam. Esse índice passou de cerca de 18,5% em 2003 para 22,8% em 2012 (último dado disponível), ante a evolução de 17,7% para 20,4% na média das seis regiões metropolitanas.

O resultado é o encolhimento da População Economicamente Ativa (PEA), formada pelas pessoas ocupadas ou em busca de ocupação, explica Bastos. Depois de crescer só 0,4% de 2011 para 2012, a PEA da região recuou 0,2% no ano passado (considerando as médias mensais de cada exercício) e voltou a cair em janeiro de 2014. Em fevereiro, o contingente ficou em 1, 893 milhão de pessoas, 1% abaixo do mesmo mês de 2013.

Os jovens estão adiando o ingresso no mercado de trabalho graças ao aumento da renda dos chefes de famílias proporcionado pela queda do desemprego, afirma o economista. Com isso, eles contribuem para a continuidade da alta dos rendimentos, devido à redução da oferta de mão de obra no mercado. Segundo a PED, o rendimento médio dos ocupados da região em janeiro cresceu 4,5% sobre igual período de 2013, para R$ 1.779. No conjunto das regiões metropolitanas houve queda de 1,2%, para R$ 1.668.

Com a PEA estagnada, as empresas têm de ser "mais receptivas às demandas salariais dos trabalhadores", diz Bastos. O rendimento médio real habitual dos ocupados cresceu 7,7% na região metropolitana de Porto Alegre entre janeiro de 2013 e janeiro de 2014 e alcançou R$ 1.989, segundo o IBGE. Na média das seis regiões, a alta foi de 3,6%, para R$ 1.984, o que colocou a capital gaúcha em terceiro lugar, atrás de São Paulo e Rio.

Para o economista Marcelo Portugal, do Departamento de Pós-Graduação em Economia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), o aumento da renda em Porto Alegre não provoca descolamento da inflação regional em comparação com o resto do país, porque o Estado é grande produtor de alimentos, o que neutraliza o impacto de custos de serviços como fretes. No acumulado de 12 meses até fevereiro, o IPCA local avançou 5,55%, ante 5,68% na média nacional.

Segundo Portugal, a taxa de desemprego em Porto Alegre é resultado de um fenômeno "estrutural". Além do baixo crescimento da população, o professor cita a "emigração líquida" do Rio Grande do Sul, o que ajuda a acentuar a tendência de estagnação da PEA. De acordo com o Censo 2010, o saldo migratório negativo (diferença entre o número de pessoas que deixam e migram para o Estado) aumentou de 39,5 mil no período 1995-2000 para 74,6 mil entre 2005 e 2010. Em São Paulo, por exemplo, o balanço foi positivo em 255,8 mil no período.

Atualmente, lembra o professor, algumas empresas buscam trabalhadores em outras regiões para suprir a demanda por mão de obra no Rio Grande do Sul. A construtora OAS trouxe operários do Nordeste para as obras arena do Grêmio, recentemente concluída. Segundo Portugal, no entanto, esse é um fenômeno pontual, porque a maioria desses trabalhadores ainda prefere migrar para São Paulo e Rio.