A taxa de desemprego caiu de 10,5% em abril para 10,2% em maio na Região Metropolitana de Porto Alegre (RMPA), e houve aumento da ocupação em todos os setores da economia. A indústria de transformação absorveu 12 mil novos empregados (4,5%) – mesmo número registrado no setor de serviços, que teve alta de 1,2% frente ao mês anterior; enquanto a construção respondeu por mais 6 mil ocupados (crescimento de 5,2%); e os segmentos de comércio, reparação de veículos automotores e motocicletas ampliaram em 1,3% na quantidade de trabalhadores (com mais 4 mil pessoas ocupadas).
No total, foram menos 3 mil pessoas em busca de ocupação (198 mil em abril), totalizando 195 mil desempregados em maio. Mas ainda não dá para dizer que o pior já passou, afirma a coordenadora da Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED-RMPA) pela Fundação de Economia Estatística (FEE), Iracema Castelo Branco.
“Apesar do aumento da ocupação em maio, o cenário de deterioração do mercado de trabalho se mantém, com retração do emprego em 4,8% frente ao mesmo período de 2015 – a maior queda da taxa registrada em maio desde 1992”, explica. Segundo Iracema, os resultados se mantiveram “levemente recuados” em maio, devido à elevação do nível ocupacional – que foi de mais 35 mil trabalhadores (ou 2,1%) – ter superado o volume de ingresso de pessoas no mercado, registrado em 32 mil (ou 1,7%). Iracema destaca que é preciso cautela ao observar este resultado, antes de se afirmar que o mesmo represente um indicativo de retomada do crescimento econômico.
A estatística lembra que, em 2015, o segundo semestre foi pior do que o primeiro, o que, até então, era incomum. Para embasar este pensamento, basta observar a pesquisa completa, que aponta que o nível de renda dos trabalhadores continua negativo, com redução do salário médio de -1,2% para o total de ocupados, -2,7% para trabalhadores autônomos e -0,3% para assalariados. Em termos monetários, esses rendimentos passaram a corresponder a R$ 1.932,00, R$ 1.701,00 e R$ 1.849,00, respectivamente. O resultado é uma massa salarial 16,8% menor que em maio do ano passado.
“Com menos recursos, fica difícil acreditar que ocorra uma retomada de consumo, a exemplo do último ciclo de crescimento econômico do País, e que estas taxas se mantenham estáveis a longo período.” Frente a maio de 2015, houve redução de 86 mil ocupados – sendo que apenas a construção civil obteve crescimento da variação do nível de emprego no acumulado do ano. Na avaliação de Iracema, entre a estabilidade e o crescimento da atividade econômica ainda haverá um “longo período”. A PED é realizada há 24 anos e apresenta dados (obtidos em 250 mil domicílios por mês) que monitoram o cenário do mercado de trabalho de cada região.
“Poucas pesquisas no País possibilitam esse recorte de análise que a pesquisa da PED proporciona”, indica Iracema, ao destacar o registro da retração do nível de renda das famílias que vem ocorrendo há alguns meses. Atualmente, a continuidade da pesquisa está ameaçada por conta do final de convênio com o Ministério do Trabalho, sem que o governo federal tenha sinalizado certificação de que manterá o orçamento (de R$ 1 milhão/ano) destinado para sua realização. “Este valor é fundamental para que seja realizado em campo”, explica a Coordenadora Técnica do Sistema PED, Lúcia Garcia. Segundo Lúcia, uma delegação da Fundação Gaúcha do Trabalho (Fgtas) esteve ontem em Brasília para resolver esta questão. Desde 1993, o governo federal destina recursos para apoiar a PED, para compor o Sistema Público de Emprego. “Todas as políticas públicas (como seguro-desemprego, piso regional e Programa Primeiro Emprego, entre outras) que o trabalhador enxerga no balcão do Sine se estende à pesquisa.”
IBGE vê mercado de trabalho em ciclo vicioso, com diminuição nos rendimentos
O mercado de trabalho está em um ciclo vicioso, com perda de rendimento e queda na qualidade do emprego, afirmou o coordenador de Trabalho e Rendimento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Cimar Azeredo. Segundo ele, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), divulgada ontem, mostra que o trabalho por conta própria já não absorve a perda no emprego com carteira assinada.
O contingente de empregados no setor privado com carteira assinada somou 34,444 milhões de pessoas no trimestre móvel até maio, 1,520 milhão a menos (queda de 4,2%) do que em igual período de 2015. Já a ocupação como “trabalhador por conta própria” cresceu em 952 mil pessoas (4,3% a mais) na mesma comparação. “Para onde estão indo esses trabalhadores que perdem a carteira de trabalho? Parte expressiva dessa população está montando o próprio negócio e trabalhando por conta própria. Só que esse canal está cada vez menor.
A saída da informalidade está se complicando”, afirmou Azeredo. Outro sinal de perda de qualidade no emprego é o aumento das populações ocupadas em atividades tradicionalmente marcadas pela informalidade e precariedade, como “alojamento e alimentação” e “serviços domésticos”. Em um ano, os contingentes ocupados nessas atividades cresceram em 180 mil pessoas (mais 4,1%) e 390 mil pessoas (mais 6,5%), respectivamente. Azeredo avaliou o atual momento do mercado de trabalho no País.
“Você tem hoje um mercado que não contrata e dispensa trabalhadores com carteira”, afirmou. Com mais desempregados e renda menor, a capacidade de consumo das famílias seguiu em baixa até maio. O coordenador destacou que a Pnad Contínua do trimestre móvel até maio ainda capta efeitos da demissão dos trabalhadores temporários, tradicionalmente contratados no fim do ano e, em geral, demitidos até março.
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