Até que ponto a taxa básica de juros é fundamental para controlar a inflação do País? O questionamento é feito a partir do estudo Expectativas Inflacionárias e Política Monetária, de autoria do pesquisador da Fundação de Economia e estatística (FEE), Bruno Paim.
Publicada pela Carta de Conjuntura (boletim mensal da fundação), divulgada ontem, a análise aponta que – descontando componentes que não estão sujeitos aos efeitos da política monetária como combustíveis e energia (que concentram parcela importante dos preços administrados) e alimentação (cujos preços são influenciados pelo clima) – a inflação estaria controlada sem que fosse preciso manter a taxa Selic elevada por tanto tempo.
Atribuir a queda da inflação à “firmeza” na condução da política monetária parece subjetivo, avalia o pesquisador responsável pelo estudo, referindo-se à justificativa do Banco Central (BC) para o que ele prefere chamar de “postura conservadora”. “Manter a taxa em níveis elevados por tanto tempo só contribuiu para o aumento do desemprego, que, há dois anos, já demonstrava índices de crescimento, e atualmente está caindo de forma muito lenta.”
Paim afirma que a decisão foi ruim para a economia, porque limitou a capacidade de tomada de crédito e prejudicou a queda do endividamento das famílias e das empresas. “Ficaria mais fácil se os juros estivessem mais baixos. Uma empresa comprometida com passivos poderia até não tomar crédito, mas conseguiria diminuir os custos da rolagem das dívidas, ganhando um fôlego maior nas finanças”, exemplifica.
“Isso está ocorrendo agora, mas demorou muito para acontecer.” Atualmente, o principal instrumento em posse do BC para administrar a variação dos preços é a taxa básica de juros. Em abril de 2013, a instituição iniciou um período de elevação da taxa de juros, que passou de 7,25% para 14,25% em julho de 2015. Após 15 meses nesse patamar, ocorreu um ciclo de redução da taxa, que passou a 7% em dezembro de 2017.
Entre as justificativas para tal movimento estão o arrefecimento da inflação — que se reduziu de 10,7% em 2015 para 2,95 em 2017 — e a baixa atividade econômica — que acumulou 11 trimestres consecutivos de queda, acompanhada por uma redução de mais de 30% no investimento, culminando com a elevação do desemprego de 7,9% em março de 2015 para 13,7% dois anos depois. Paim destaca que a redução da inflação e a ancoragem das expectativas são vistas como elementos de sucesso na condução da política monetária recente.
“De fato, a expectativa de inflação retornou para o centro da meta, permitindo inclusive ao Conselho Monetário Nacional (CMN) reduzir a meta para 4,25% em 2019 e 4% em 2020.” Outro destaque da Carta de Conjuntura de fevereiro publicada pela FEE foi o estudo Indústrias Brasileira e Gaúcha: Que Recuperação é Essa?, de autoria da pesquisadora em economia Clarisse Castilhos.
Ela destaca que, entre dezembro de 2016 e dezembro de 2017, o segmento de transformação passou de -6,0% para 2,2% (com variação de 8,2 pontos percentuais), enquanto a indústria extrativa mineral evoluiu de -9,4% para 4,6% (14 p.p.). “Ainda que o peso da extração mineral sobre o total da produção industrial seja muito inferior ao da indústria de transformação, chama a atenção o crescimento que aquela vem obtendo na última década em relação ao grupo de atividades de transformação”, observa a pesquisadora.
Em novembro de 2017, o segmento teve melhores resultados registrados nas atividades produtoras de equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (20,2%), fumo (17,6%) – que, no entanto, tem como base de comparação um período de queda, em vista do clima que reduziu a oferta de matéria-prima para processamento em 2016 –, veículos automotores, reboques e carrocerias (16,7%).
Já os piores resultados foram registrados por fabricação de máquinas, aparelhos e materiais elétricos (-4,2%), fabricação de coque, de produtos derivados do petróleo e de biocombustíveis (-5,3%), e fabricação de produtos farmoquímicos e farmacêuticos (-6,5%).
O grupo cujo principal valor reside na atividade das refinarias de petróleo acumulou prejuízos nos últimos anos, em decorrência de várias razões”, comenta Clarisse, lembrando que, em paralelo, a Petrobras foi o principal foco da crise institucional e de desestruturação das estatais que hoje abala a economia brasileira.
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