Depois de dois meses em queda, a taxa de desemprego manteve-se estável na região metropolitana de Porto Alegre em junho. O percentual de desempregados chegou a 10,3% da população economicamente ativa: são 196 mil trabalhadores sem emprego atualmente.
Apesar de ter ocorrido avanço – alta de 0,1 ponto percentual em relação a maio –, especialistas tratam o cenário como de estabilidade na taxa de desemprego. Por isso, alertam que ainda é cedo para considerar melhora no mercado de trabalho gaúcho: as vagas que são abertas oferecem salários menores.
Em março, pior resultado no ano, a taxa de desemprego chegou a 10,7%. Na comparação de 12 meses, o contingente de desempregados teve acréscimo de 28 mil pessoas. Os dados aparecem na Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED-RMPA), divulgados ontem por Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Econômicos (Dieese), Fundação de Economia e Estatística (FEE) e Fundação Gaúcha do Trabalho e Assistência Social (FGTAS).
– Desde setembro do ano passado estamos oscilando com o índice no patamar de 10%. Um mês cai um pouco, em outro volta a subir, sempre em torno desse percentual. O desemprego está estabilizado, o que é uma boa notícia, mas vale lembrar que é quase o dobro das taxas que tínhamos em 2014 – avalia Iracema Castelo Branco, economista da FEE.
Ao contrário do que se poderia esperar, a estabilidade no índice de desemprego não ocorreu devido à abertura de vagas com carteira assinada. Os motivos foram outros: mais profissionais passaram a trabalhar por conta própria para alavancar a renda e mais pessoas decidiram sair do mercado de trabalho.
Junho foi um exemplo disso. Foram fechados 9 mil postos em comparação com 12 meses anteriores, mas a saída de 71 mil pessoas do mercado atenuou o impacto na fila do desemprego.
– A crise atinge com força o emprego formal, tanto no Rio Grande do Sul quanto no Brasil. O mercado de trabalho como um todo fica estável, mas em uma situação bem mais fragilizada, com vagas menos qualificadas e salários menores – afirma Anselmo Santos, professor do Centro de Estudos Sindicais e Economia do Trabalho do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas, em São Paulo.
NO PAÍS, PRIMEIRO SEMESTRE TEVE SALDO NEGATIVO EM 531,8 MIL VAGAS
A indústria de transformação, que vinha abrindo vagas nos últimos dois meses, voltou a fechar postos de trabalho. Em junho, foram 14 mil a menos, anulando os 12 mil empregos criados em maio no setor. O segmento é um dos mais atingidos pela crise e um dos que mais vêm demitindo desde o início da recessão. O comércio também encolheu: 3 mil vagas a menos. O melhor desempenho coube ao setor de serviços, que desacelerou forte a criação de postos, mas conseguiu abrir 4 mil em junho. Em maio, 12 mil vagas haviam sido abertas no segmento.
Ontem, o Ministério do Trabalho divulgou os dados nacionais do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). Houve aceleração no fechamento de vagas em junho e pelo 15º mês seguido o saldo foi negativo: 91 mil foram cortadas (leia na página 18). No Estado, o resultado ficou negativo em 10,3 mil empregos.
No primeiro semestre, o país perdeu 531,8 mil postos. Esse é o pior resultado para o período desde o início da série histórica, em 2002.
Geração de postos só na faixa de até 1,5 salário mínimo
A abertura de vagas formais no Rio Grande do Sul de janeiro a maio está se restringindo às faixas salariais de até 1,5 salário mínimo – R$ 1.320. Levantamento do Ministério do Trabalho e Previdência Social, a pedido de Zero Hora, mostra que postos de trabalho com remuneração mais alta estão sendo fechados no Estado.
Nos cinco primeiros meses do ano, 4,3 mil vagas foram perdidas no total, mas dentro da faixa salarial de até 1,5 salário mínimo, foram gerados 27,6 mil empregos. Os estratos que mais fecharam vagas vão de 1,5 a dois salários e de dois a três salários. Juntos, foram 20,5 mil a menos.
De acordo com o ministério, os setores que tiveram saldo positivo de vagas dentro da faixa salarial de até 1,5 salário mínimo, nos primeiros cinco meses deste ano, foram indústria de transformação (20.848), serviços (5.905), agropecuária (369), administração pública (156), construção civil (222) e serviços de utilidade pública (84).
Autônomos compensam perdas de carteira assinada
O mercado de trabalho na região metropolitana de Porto Alegre se mantém estável nos últimos três meses porque o fechamento de vagas com carteira assinada tem sido compensado pelo forte aumento no número de trabalhadores autônomos. Em junho, foram 23 mil a mais trabalhando dessa forma. Atualmente, são 236 mil pessoas que recorrem aos bicos. A estimativa é do IBGE e representa aumento no contingente de quase 10,8% em relação a maio.
Com essa elevação, os trabalhadores por conta própria passam a representar quase 14% da mão de obra da região. São considerados trabalhadores autônomos aqueles que exercem sua atividade profissional sem vínculo empregatício, assumindo os próprios riscos. A prestação de serviços é de forma eventual, e não habitual.
Em junho, foram fechados 35 mil postos formais com carteira assinada na Região Metropolitana. Enquanto isso, o número de empregos sem carteira cresceu 2 mil no mês.
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