14/06/2017
Zero Hora
Notícias | Pág. 6
Clipado em 14/06/2017 19:06:22
REPORTAGEM ESPECIAL
PIB do RS para de cair após 33 meses seguidos

FECHOU NO ZERO a economia gaúcha entre janeiro e março de 2017 em relação aos três primeiros meses do ano passado, depois de 11 trimestres seguidos de resultado negativo. Expectativa para o período entre abril e junho é de crescimento puxado pela agricultura



Depois de quase três anos seguidos no vermelho, a economia gaúcha parou de cair. Apesar de a recessão ter dado uma trégua, o Estado ainda não voltou a crescer. Nos primeiros três meses deste ano, o Produto Interno Bruto (PIB) do Rio Grande do Sul ficou igual ao do mesmo período de 2016, ou seja, teve variação nula, conforme dados divulgados ontem pela Fundação de Economia e Estatística (FEE).

– O resultado pode ser considerado positivo, já que vínhamos de 11 trimestres consecutivos em queda. Em uma crise profunda como a que vivemos, deixar de cair é sinal de que pode haver nova tendência – avalia o diretor técnico da FEE, Martinho Lazzari.

A estabilidade no Estado foi melhor do que o desempenho da economia nacional no período, que recuou 0,4%, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Entre os setores que compõem o PIB gaúcho, o único que avançou no início deste ano foi a agropecuária, com crescimento de 3,5%, puxado em grande parte pelo sucesso na colheita das lavouras de arroz (leia na página ao lado). No sentido contrário, serviços teve leve baixa de 0,1%. E a maior perda setorial foi registrada pela indústria, que encolheu 1%.

– A sensação é de que já chegamos ao fundo do poço. Assim como no Brasil, a melhora na economia gaúcha está associada à supersafra de grãos – comenta o professor de Economia da UFRGS Marcelo Portugal.

A FEE ainda apresentou os dados da economia estadual relacionados ao trimestre imediatamente anterior. Nessa base de comparação, o PIB do Rio Grande do Sul cresceu 0,6% no início deste ano sobre os últimos três meses do ano passado – no país, o avanço foi superior, de 1%. Nesse padrão de análise, os três setores apresentaram variação positiva do Estado: 4,7% na agropecuária, 1% na indústria e 0,7% em serviços.

PROJEÇÃO É DE ENCERRAR O SEGUNDO TRIMESTRE NO AZUL

Depois de atingir o nível zero, Lazzari projeta que o PIB do Estado tenha, no segundo trimestre deste ano, desempenho positivo em relação a igual período de 2016. Conforme o diretor técnico da FEE, a estimativa está relacionada à previsão de que a agropecuária apresente, entre abril e junho, avanço superior aos 3,5% entre janeiro e março. Essa expectativa existe porque ainda não entrou na conta o resultado favorável das plantações de outras culturas além do arroz.

– O próximo PIB vai ter resultado do forte crescimento projetado para a safra, mas teremos de esperar pelos dados da indústria – pondera Lazzari.

A alta no campo, explica, é prevista em razão da colheita de milho e soja, cujos efeitos são sentidos no segundo trimestre no Rio Grande do Sul, ou seja, depois do que em outras regiões do país.

– Assim como a economia nacional, o PIB gaúcho esboça sinais de recuperação lenta e gradual. Qualquer retomada será capitaneada pela agropecuária, único setor que cresce de maneira autônoma, com aumento no nível de produção e na produtividade, e independe de política fiscal – afirma o professor de Economia da UFRGS Fernando Ferrari Filho.

SAIU DO VERMELHO (ver imagem)


Safra de arroz puxou alta no campo

A alta de 3,5% na agropecuária foi influenciada pelo desempenho positivo colhido nas lavouras de arroz, com avanço de 14% na produção ante o primeiro trimestre de 2016.

De acordo com o presidente da Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz), Henrique Dornelles, o avanço serve como uma espécie de compensação das perdas de 2016.

– É uma retomada do volume, já que o ano passado teve dura queda causada pelas chuvas – comenta.

O setor também foi beneficiado por uma grande produção de frutas. A de uva mais que dobrou em relação a 2016 e a de maçã se recuperou de maus resultados no ano passado.

Antônio da Luz, economista-chefe do Sistema Farsul, que inclui a Federação da Agricultura do Estado do RS, faz uma ponderação. Mesmo com os resultados positivos projetados para a agropecuária no segundo trimestre, principalmente em razão da supersafra de soja, o cenário não é tão animador para os agricultores:

– O PIB é uma medida de produção. A rentabilidade é outra. Os produtores estão vendendo a preços internacionais muito baixos, com elevados custos de transporte.

NÚMEROS DA AGROPECUÁRIA (ver imagem)

Indústria diminui ritmo de retração

A indústria do Rio Grande do Sul ainda não conseguiu sair do vermelho, mas ao menos diminuiu o ritmo de queda. Entre janeiro e março deste ano, comparado aos três primeiros meses de 2016, a retração foi de 1%, enquanto no primeiro trimestre de 2016 o tombo havia sido de 6,6% frente ao mesmo período do ano anterior.

A maior baixa no início de 2017 foi na extrativa mineral, que caiu 7,6%. Mas a atividade tem pouca influência no PIB. O que pesou mesmo foram outras duas quedas. A construção registrou baixa de 4,9%, e o grupo que reúne eletricidade e gás, água, esgoto e limpeza urbana fechou em -7,3%.

No sentido contrário, a FEE destaca a alta de 0,7% na indústria de transformação, a segunda consecutiva na comparação com o mesmo trimestre do ano anterior. O resultado, conforme a pesquisa divulgada ontem, teve impacto do crescimento de 12,8% na produção de veículos automotores, reboques e carrocerias.

– Essa alta está relacionada ao aumento nas exportações, principalmente para a Argentina, que apresenta melhora – comenta o presidente da Federação das Indústrias do Estado (Fiergs), Heitor José Müller.

Apesar do avanço na atividade de transformação, principal componente do PIB industrial, Müller projeta que o setor ainda não sairá do vermelho entre abril e junho na comparação com o mesmo período de 2016.

Além de lembrar as incertezas agravadas pela crise política, o dirigente lembra que o acúmulo de feriados entre abril e maio pode frear o desempenho que será medido no segundo trimestre.

– A previsão é de que não vamos ter grande melhora. Se ficarmos nesse nível, devemos ficar felizes. O que não pode é piorar – avalia.

ÍNDICES DA INDÚSTRIA (ver imagem)