Demorou quase três anos, mas a economia gaúcha finalmente parou de encolher. Não quer dizer, porém, que tenha voltado a crescer: na verdade, no primeiro trimestre de 2017, o Produto Interno Bruto (PIB) do Estado se manteve estável em relação ao mesmo período do ano passado. Mesmo com a variação zero, entretanto, o dado é importante por marcar a quebra da trajetória de quedas iniciada no segundo trimestre de 2014. Os números foram divulgados nesta terçafeira pela Fundação de Economia e Estatística (FEE).
Para avaliar a situação, o coordenador do Núcleo de Contas Regionais da instituição, Roberto Rocha, opta por uma analogia com quem está negativado no cheque especial e consegue conter a dívida. “Pelo menos os juros param de acumular”, comenta Rocha. O cenário ainda ganha em importância quando se relaciona com a economia nacional. Na mesma base de comparação, o PIB do Brasil recuou 0,4% no primeiro trimestre, acumulando o seu 12º trimestre consecutivo de queda.
Como já é de praxe, o principal motor para o resultado veio da agropecuária, que cresceu 3,5% no período. Grande parte disso, fruto da recuperação na produção de arroz, que cresceu 14% em relação aos meses iniciais de 2016. Outra cultura de destaque foi a da uva, que registrou aumento de 115% na comparação com o ano passado. No cômputo geral, entretanto, a viticultura acaba impactando menos o PIB do que o arroz, que é o principal produto no início do ano. O restabelecimento da produção das vinhas, por outro lado, se reflete no desempenho industrial.
Graças à produção de uvas, o segmento que mais cresceu na indústria gaúcha foi o de bebidas, que se expandiu 32,8% no trimestre em relação ao início de 2016. O desempenho mais importante, porém, veio dos veículos automotores, cujo crescimento chegou a 12,8% graças às vendas para a Argentina. “Todos os setores metalomecânicos crescem com base nas exportações”, comenta Rocha. A principal queda foi sentida no coque e refino de petróleo (-16,1%), movimento atribuído por Rocha à substituição dos derivados de petróleo locais por produtos importados.
Somando todos os setores, a transformação foi o único segmento da indústria que cresceu, expandindo-se 0,7%. Com a queda nos outros segmentos (construção, extrativa e geração de energia), a indústria como um todo encolheu 1%. Já os serviços se mantiveram praticamente estáveis, encolhendo apenas 0,1%. Nesse campo, o melhor resultado veio do transporte e armazenagem, segmento que registrou crescimento de 3,4%. O comércio, por outro lado, encolheu 1%. No acumulado de quatro trimestres, o PIB gaúcho ainda apresenta retração. De abril de 2016 a março de 2017, a queda foi de 2%, valor ainda um pouco menor do que o visto na economia nacional, que encolheu 2,3%. Para o segundo trimestre do ano, as perspectivas apontam, a princípio, para um resultado positivo.
A maior aposta recai novamente sobre a agricultura, já que a projeção é de mais uma safra recorde. Além disso, o segundo trimestre é, tradicionalmente, o período do ano em que os grãos mais têm força na economia gaúcha, uma vez que marca a entrada mais forte da comercialização da soja, principal produto agrícola do Estado, além de outras culturas. “Temos alguns sinais da venda externa da indústria em abril não tão positivos, mas, em geral, a expectativa é de que seja um trimestre positivo”, prevê o diretor técnico da FEE, Martinho Lazzari.
PRODUTO INTERNO BRUTO (VARIAÇÃO EM %) (Ver imagem)
COMPARAÇÃO COM O MESMO TRIMESTRE DO ANO ANTERIOR Fonte: FEE
Na comparação com o trimestre anterior, crescimento foi menor do que o brasileiro
No início do mês, a divulgação do PIB brasileiro pelo IBGE foi marcada pelas notícias de um crescimento de 1% no primeiro trimestre, comemorado inclusive pelo governo como o “fim da recessão”. O dado se referia à comparação com o trimestre imediatamente anterior, o último de 2016. Quando analisado nessa base de comparação, o resultado da economia gaúcha também cresceu. A expansão, porém, foi de 0,6% no Estado, índice menor, portanto, do que o visto no País. Mesmo assim, o resultado também é considerado positivo para a economia gaúcha, em especial pelo período do ano em que acontece. Desde 2015, a economia gaúcha só registrou resultados de crescimento nessa comparação com ajuste sazonal nos segundos trimestres, graças a safras recordes de grãos ano após ano.
“É a primeira vez desde então que o nosso crescimento não acontece apenas pelo peso do agronegócio”, comenta o coordenador do Núcleo de Contas Regionais da FEE, Roberto Rocha. Apesar disso, a principal expansão no trimestre continuou vindo justamente da agropecuária, que cresceu 4,7%. A dependência do campo, entretanto, foi menor do que a vista na economia nacional, onde a agricultura teve expansão de 13,4% e foi indicada como responsável quase única pelo crescimento da economia.
Outra principal diferença ficou por conta dos serviços, segmento que cresceu 0,7% no Estado em relação ao quatro trimestre do ano passado. O maior destaque na área acabou sendo o comércio, que teve alta de 0,9%. No Brasil como um todo, o setor terciário apresentou variação nula. Já a indústria teve resultados muito semelhantes. Enquanto no PIB nacional o setor apresentou crescimento de 0,9%, no Rio Grande do Sul a expansão foi de 1%.
Em solo gaúcho, o responsável pelo aumento da atividade foi o segmento de eletricidade, gás, água, esgoto e limpeza urbana, que cresceu 2,7% por conta do crescimento na geração de energia. Todos os outros segmentos da indústria, nessa base de comparação, registraram quedas na atividade.
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