Em meio ao momento de turbulência política nacional, boas notícias vêm da economia. O Produto Interno Bruto (PIB) no Rio Grande do Sul foi positivo em três variáveis. No comparativo com igual período do ano passado, a soma do primeiro semestre mostrou a elevação do PIB em 2,1%, com 2,5% no segundo trimestre. Se comparado o segundo trimestre aos três primeiros meses do ano, a alta foi de 0,7%. Os dados foram divulgados ontem, em Porto Alegre, pela Fundação de Economia e Estatística (FEE) do Estado e motivam as entidades comerciais e industriais da região.
Professor do Curso de Economia da Unisinos, Marcos Tadeu Lelis analisa que o crescimento gaúcho do PIB acima da média nacional se deve à maior representatividade do agronegócio para a economia do Estado. "A agropecuária tem um impacto maior sobre o PIB do Rio Grande do Sul do que sobre o PIB do Brasil", compara.
DESEMPREGO
Embora celebre o crescimento da economia depois de um período de retração, ele considera a retomada lenta, e aponta que é necessário um tempo maior de avaliação para fazer conclusões. "Ainda acho que é preciso esperar mais um pouco antes de dizer que a crise ficou para trás. Quando o Brasil entrou em recessão, tínhamos quatro milhões de desempregados, agora estamos com 13 milhões. Se a gente tiver o crescimento que está sendo previsto, perto de 2% ao ano, só em 2021 voltaremos ao tamanho da renda de 2013", projeta.
Indústria depende da queda de juro
A FEE apontou crescimento de 2,8% da indústria de transformação no segundo trimestre, mas os outros três segmentos da indústria (extrativa; eletricidade e gás, água, esgoto e limpeza urbana; e construção) registraram quedas ainda maiores do que no trimestre anterior. Para o vice-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Leopoldo (Sindimetal), Sérgio Galera, é preciso cautela. "Alguns setores da indústria estão tendo alguma melhora, mas a grande maioria da indústria ainda sente os reflexos da crise." Ele considera que a aprovação de reformas estruturais por parte do Congresso é essencial para manter o ritmo de retomada do crescimento. "A indústria é carente de boas notícias, que deem uma perspectiva de melhora. A queda dos juros deve ser um motivador para que as empresas invistam mais. Com os juros mais baixos, há confiança para investir", analisa.
Agropecuária: principal influência
A principal influência no desempenho positivo do PIB gaúcho veio da agropecuária, que cresceu 11,7% no semestre. Entretanto, outros dois setores também ajudaram a fazer a diferença, ainda mais se comparados aos números brasileiros. "O diferencial foi o desempenho do comércio no setor dos serviços e da indústria de transformação no setor da indústria, significativamente superior ao desempenho nacional nessas áreas", destacou o coordenador do NCR, economista Roberto Rocha, exaltando os 1,9% positivos da indústria de transformação e o 1,3% do comércio, ante o 0,0% do País nos dois segmentos. Durante a divulgação do PIB, a FEE também apresentou a ferramenta digital PIBVis, novo aplicativo do Visualiza FEE, com os dados completos do indicador disponíveis no site da Fundação que faz parte do governo do Estado.
AS MOTIVAÇÕES DO CRESCIMENTO NOS DIFERENTES SEGMENTOS
De acordo com o economista Roberto Rocha, as motivações para o crescimento no semestre da indústria de transformação se devem a indústria do fumo, que teve alta de 40,2%, junto com maquinas, motores, combustíveis e produtos de metal. "Associamos isso à capacidade exportadora da nossa indústria, tanto como fornecedora para o Brasil quanto para o exterior, que é ocaso dos automóveis, com +15,7%", assinalou.
Na análise sobre os bons números do comércio, o economista justificou os fatores para o saldo positivo. "A melhoria no mercado de trabalho, com taxas menores de desemprego que no Brasil, a liberação de saldo do FGTS, a taxa da inflação, que permite com preços menores o aumento da renda e compra de outros itens, e o efeito da agropecuária nas pequenas propriedades, a melhoria da renda no campo, que impacta no comércio de municípios do interior, ilustrou Rocha.
ECONOMIA E POLÍTICA
Questionado sobre um possível descolamento da economia das tsunamis políticas diárias do País, o que explicaria supostamente o crescimento do PIB, Roberto Rocha ponderou. "E uma questão muito difícil. A gente tem que tentar estabelecer quais canais exatamente acabam influenciando a economia. Não vimos no momento nenhuma decisão de política econômica que tenha sido revertida ou mudança brusca devido às questões políticas", argumentou.
EXPECTATIVA É BOA NO COMÉRCIO, FOCADO NAS DATAS FESTIVAS
Se no primeiro semestre a agricultura foi a principal alavanca para o PIB, em função das safras, nos próximos seis meses a força desse setor tem tendência natural de queda. Contudo, Roberto Rocha mantém o otimismo com o que vem pela frente. "O comércio tem no último trimestre do ano, com o Natal e compras, o seu melhor desempenho. Então a expectativa é que o desempenho seja positivo, talvez não em taxas tão vigorosas pela redução na contribuição da agricultura, mas com crescimento", sublinhou Rocha.
Para o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de São Leopoldo (COQ, Olinto Manegon, a variação positiva do comércio, que cresceu 2,9% depois de 10 trimestres em queda no Rio Grande do Sul, é um alento. "A gente vem sendo otimista, até porque nosso volume de vendas depende da autoestima do povo brasileiro. No comércio, a gente vive a crise com grande intensidade, porque dependemos do consumo das famílias", analisa. Menegon acredita que os números vão manter o crescimento na reta final do ano, devido ao período detestas. "Esperamos que o comércio fique mais acelerado a partir da segunda quinze de setembro. Estamos pregando o otimismo", afirma.
VICE-PRESIDENTE DA ACIST-SL DIZ QUE PAÍS DEVE SEGUIR REFORMAS
O vice-presidente de Indústria da Acist-SL, Davi Dalcin também recomenda cautela na análise dos números divulgados pela FEE. Ele aponta que os resultados do crescimento do PIB no Estado levarão tempo para serem sentidos diretamente pela população, pois a perda dos últimos anos foi muito acentuada. "Não houve impacto consiste no poder de consumo para ocupar a capacidade ociosa da indútria que atua no mercado nacional. A taxa de desemprego, embora estabilizada, continua muito elevada". Segundo o dirigente, o mercado está começando a recuperara queda de períodos passados, e é importante manter a trajetória das retomas estratégicas para o Pais. "Um forte indicador da economia é o trabalho formal e, se olharmos em volta, veremos a grande quantidade de ambulantes e de informais", diz.
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