Tradicionalmente visto como um mercado para mão de obra de pouca escolaridade e informal, a construção vem passando por outro processo nesta década. Segundo dados da Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED-RMPA), desde pelo menos 2011 o perfil do trabalhador da construção na Grande Porto Alegre está envelhecendo, graças a uma menor entrada de jovens na ocupação e à permanência dos mais velhos por mais tempo na atividade. A constatação é preocupante, segundo os pesquisadores, na medida em que o setor exige capacidades físicas que tendem a se perder com a idade. Entre 2011 e 2016, a parcela de jovens entre 16 e 24 anos de idade no total de ocupados na construção na Região Metropolitana caiu de 15% para 10,9%.
Ao mesmo tempo, os trabalhadores com 60 anos ou mais aumentaram sua participação, de 7,3% para 9,9%. Mais da metade, 54,1%, está acima dos 40 anos de idade. Parte do movimento é reflexo natural da transição demográfica pela qual passa a população da região, que está ficando mais velha. Há, em comum com os outros setores, também a postergação da entrada dos jovens no mercado de trabalho – a parcela de jovens que só estudam passou de 17% no fim dos anos 1990 para 30% no ano passado. “O aumento dos idosos na construção acende uma luz vermelha em relação a políticas públicas pela natureza da atividade”, comenta Virginia Donoso, economista do Dieese, uma das entidades que produz a PED-RMPA.
Mesmo com a mudança estrutural da população, porém, outros dados da pesquisa ajudam a explicar a permanência dos idosos na profissão, ainda que o avançar da idade comprometa as habilidades necessárias. “Por ser um trabalhador com baixa escolaridade, não consegue migrar para outra atividade. Além disso, como grande parte não contribui para a Previdência, precisam se manter na ativa porque não conseguem se aposentar”, explica Iracema Castelo Branco, economista da Fundação de Economia e Estatística (FEE), outra das instituições que mantém a pesquisa. No ano passado, 44,1% dos ocupados na construção não haviam completado nem o Ensino Fundamental.
O índice vem melhorando (em 2011 eram 52,2%), mas ainda é bastante elevado em relação a outros setores. A situação é ainda mais crítica na construção de edifícios (48,8%) do que nos serviços especializados para construção, categoria que inclui, por exemplo, eletricistas, azulejistas e outros especialistas, onde os trabalhadores sem o Ensino Fundamental são 31,6%. Em relação à Previdência, apenas 56,8% dos ocupados na construção contribuem com o sistema, parcela semelhante aos 56,2% encontrados em 2011. A participação, entretanto, ainda fica muito aquém se comparada com a vista no total dos trabalhadores da Região Metropolitana, onde 83,1% dos ocupados contribuem para a Previdência.
Muito disso explicado pela grande participação de autônomos na força de trabalho da construção: eles foram 45,4% em 2016, enquanto representavam apenas 13,7% no total de ocupados da região. Ao todo, a construção empregou 120 mil pessoas em 2016, menor contingente da década (o máximo foram as 128 mil encontradas em 2012). Destas, 95,4% são do sexo masculino, e 69,1% são chefes de família. Por segmentos, 73,5% atuam na construção e incorporação de edifícios; 24,3%, nos serviços especializados; e pouco mais de 2%, em obras de infraestrutura, embora esse último não seja divulgado pela pesquisa por falta de amostra.
OS TRABALHADORES DA CONSTRUÇÃO NA RMPA (2016) (VER IMAGEM)
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