O desempenho da indústria gaúcha já mostrava sinais de desaceleração. No último dado divulgado pela Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs), o setor apresentava o menor nível de atividade em 12 anos.
E o desaquecimento das empresas em solo gaúcho foi referendado nos números do PIB trimestral do Estado, divulgados ontem. Segundo a Fundação de Economia e Estatística (FEE), a indústria caiu 9,1% no segundo trimestre deste ano — pior resultado desde o segundo trimestre de 2009. A soma dos bens e serviços produzidos no Estado só não foi menor devido à boa fase na agropecuária, que garantiu um PIB de -0,6% de abril a junho.
Recuo menor no calçado
Dentre os 14 segmentos da indústria da transformação analisados pela FEE, a cadeia coureiro-calçadista se destaca com uma situação más positiva neste cenário. Com uma queda de 3,2% em relação ao segunda trimestre do ano passado, o segmento registrou o segundo melhor desempenho das atividades que caíram.
Segundo o economista Roberto Rocha, esse dado pode significar que o segmento está conseguindo destinar uma parte da produção para o mercado externo. "E uma possibilidade plausível já que, com a valorização do dólar, os calçados e couros brasileiros ficam mais competitivos no mercado internacional. E o câmbio pode ajudar que esse índice seja melhor nos próximos balanços", destaca Rocha.
Tombo da crise
No final de 2008 e durante boa parte de 2009, a indústria gaúcha sofreu com uma forte depressão. Na época, a crise global abalava os negócios. Mesmo assim, no último trimestre de 2009, o setor conseguiu reagir e alcançou um saldo de 7,3%. índices melhores foram conquistados nos trimestres seguintes, chegando a 19,3% e 11,7% nos dois primeiros trimestres de 2010. Mas desde o segundo trimestre de 2014, o setor industrial coleciona perdas.
Quinto trimestre no vermelho
Pelo quinto trimestre consecutivo, o PIB gaúcho está em queda. Nos meses de abril, maio e junho, a soma dos bens e serviços produzidos no Estado teve retração de 0,6% na comparação com o mesmo período de 2014.0 recuo só não foi maior graças ao bom desempenho da agropecuária — com crescimento de 15,6% — que salvou o PIB de um tombo maior. E a indústria é o setor que mais vem sofrendo revés.
A queda de 9,1% registrada no último trimestre só é menor que a contabilizada no começo de 2009, e fez puxar o desempenho do PIB gaúcho para baixo. Neste intervalo de seis anos, o setor industrial apresentou algumas melhoras e outras baixas, mas desde o ano passado está passando por uma forte desaceleração, principalmente no segmento da transformação.
No segundo trimestre deste ano, as atividades econômicas da indústria da transformação representaram um recuo de 10,1% em relação ao mesmo
trimestre do ano passado. Só o setor coureiro-calçadista apresentou déficit de 3,5%. Máquinas e Equipamentos, por sua vez, despencaram 25,1%.
"A desaceleração na indústria é forte e impacta muito a arrecadação de impostos e, portanto, as finanças públicas", afirma Igor Morais, economista e presidente da FEE, ao lembrar que a tendência observada para 2015 é a de um ano negativo. "Esta crise pode ser considerada pior porque está durando mais que as outras", pondera o economista.
Reflexo do momento conturbado
Para o economista e coordenador do Núcleo de Contas Regionais da FEE, Roberto Rocha, o desempenho ruim da indústria deve ser analisado em um cenário de crise nacional.
"A desaceleração industrial é um reflexo desse momento conturbado na economia em que registramos quedas nas rendas familiares, nos investimentos, nas demandas, aumento de impostos que levaram as em presas a não investirem e reduzirem os seus custos", comenta Rocha, ao lembrar que a exportação pode ser uma boa opção para alguns segmentos, devido à desvalorização do real frente ao dólar.
E é justamente nessa alternativa que muitos empreendimentos estão trabalhando, inclusive o segmento de máquinas e equipamentos, que apresentou a segunda maior contribuição negativa (-25,1%) para o decréscimo da transformação no Estado, atrás somente da produção de veículos automotores (-28,4%). "Esses números confirmam a realidade das empresas.
O momento é preocupaste, e talvez não seja pior porque existem iniciativas para fazer um esforço nas exportações, que podem amenizar esse desempenho negativo", conta o presidente da Abrameq, Marlos Schmidt, ao enfatizar que as empresas estão se adequando a esse novo cenário. "Estamos tendo que conviver, ou melhor, sobreviver com essa situação", fala Schmidt.
Setor calçadista mira nas exportações
Mesmo em queda, o resultado positivo da cadeia coureiro-c alça-dista no Estado, diante das outras atividades econômicas da indústria da transformação, pode ser explicado pela importância do Estado para o segmento.
"Talvez esse impacto menor da recessão econômica na indústria calçadista do Rio Grande do Sul esteja relacionado ao fato de o Estado ser o principal exportador de calçados do Brasil. Em momento favorável para as exportações, com o dólar em patamares mais elevados, é natural que as indústrias focadas no mercado internacional colham resultados mais satisfatórios do que as que trabalham exclusivamente com o mercado doméstico, este sim em notável retração", afirma o presidente-executivo da Abicalçados, Heitor Klein, ao ressaltar que o câmbio atual também poderá frear a entrada destes produtos internacionais no mercado nacional.
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