No dia em que se celebra o Dia Internacional das Mulheres, é notório que ainda não foram equacionadas as distorções vinculadas a gênero quando o assunto é atividade profissional. O décimo Boletim Especial – Mulher e Trabalho, que analisa a inserção da mulher no mercado de trabalho na Região Metropolitana de Porto Alegre (RMPA), é uma prova disso ao apontar a elevação da disparidade entre mulheres e homens nesse quesito.
A desigualdade entre as taxas de desemprego total feminina e masculina passou de 0,7 pontos percentuais, em 2015, para 1 ponto percentual no ano passado (esse aumento interrompeu a queda da diferença entre homens e mulheres, que vinha ocorrendo desde 2004). Enquanto os homens registraram um índice de desemprego de 10,2%, em 2016, as mulheres verificaram 11,2%. O levantamento foi divulgado ontem por FEE, Dieese e Fgtas.
A pesquisadora e estatística da FEE Patrícia Biasoli argumenta que as dificuldades da economia afetam ambos os sexos, porém os empregos de mulheres são, geralmente, mais vulneráveis que os destinados aos homens. Patrícia comenta que, em muitas profissões que têm intensa presença feminina, as mulheres são menos reconhecidas ou pior remuneradas, como as áreas da saúde e da educação. De acordo com a pesquisadora, ainda é muito cedo para afirmar que o aumento da desigualdade entre homens e mulheres será uma tendência nos próximos anos. Porém, atualmente, Patrícia destaca que o cenário verificado na Região Metropolitana de Porto Alegre é semelhante ao de outras metrópoles brasileiras.
O levantamento feito na RMPA também avalia o rendimento médio real por hora, que considera a jornada de trabalho. Esse indicador mostra que a proporção do rendimento/hora das mulheres em relação aos homens diminuiu de 88%, em 2015, para 86,3% em 2016, isso porque a jornada feminina aumentou em uma hora, passando para 40 horas semanais, enquanto a masculina permaneceu estável (43 horas). Ainda conforme o estudo, no ano passado, o contingente de desempregadas foi estimado em 98 mil, acréscimo de 16 mil em relação a 2015. Em 2016, o nível ocupacional apresentou retração de 4,7% para ambos os sexos.
O contingente de mulheres ocupadas foi estimado em 779 mil, sendo 38 mil a menos do que no ano anterior. Segundo Patrícia, o desempenho desfavorável do nível ocupacional das mulheres não foi pior, pois o setor mais impactado, com redução de 11,6%, foi a indústria, que atua, tradicionalmente, com mais mão de obra masculina. A queda do nível ocupacional revelou-se desfavorável à formalização das relações de trabalho diante da intensa redução do emprego assalariado feminino (-7,2%) e masculino (-6%). Para as mulheres, observou-se redução tanto do emprego com carteira assinada (-7,6%) quanto do sem carteira (-2,9%).
TAXA DE DESEMPREGO POR SEXO, NA RMPA (Ver imagem)
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