Depois de dois anos de incerteza e desempenhos negativos, a economia do Brasil e do Rio Grande do Sul começa a dar sinais de recuperação em 2017, mas a tão esperada retomada do crescimento ainda enfrenta obstáculos. A indústria nacional e regional voltou a apresentar alguns índices positivos nos primeiros meses deste ano, e o comércio espera um novo ânimo no mercado consumidor com a liberação das contas inativas do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS).
Mas fatores como a instabilidade política gerada após a divulgação dos áudios da delação premiada do empresário Joesley Batista, um dos donos da JBS, somada à queda no nível de empregos e à dificuldade dos empresários em fazer novos investimentos seguem influenciando a conjuntura durante o ano. As perdas do setor industrial não se limitam ao período de crise econômica verificado desde 2014. Conforme a Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs), a produção física da indústria gaúcha encerrou o ano de 2016 em nível 4,6% inferior ao de janeiro de 2002. “Não há crescimento sustentado do setor desde 2008, ou seja, estamos prestes a completar uma década de estagnação”, aponta análise da Unidade de Estudos Econômicos da entidade.
Essa estagnação pode ser verificada em diferentes aspectos da atividade industrial. A produção física, por exemplo, caiu 4,3% em 2014, 11,5% em 2015 e 3,9% em 2016 no Estado, segundo a Fiergs. Outros dados da federação apontam queda nas horas trabalhadas (-5,3%), na utilização da capacidade instalada (-0,5%) e no faturamento real (-10,3%) ao longo do ano passado. Quanto ao número de empregos, apenas quatro setores da indústria gaúcha apresentaram crescimento em 2016: couro e calçados, papel e celulose, produtos têxteis, e produtos químicos, segundo a Fundação de Economia e Estatística (FEE).
Mas, em nenhuma dessas áreas, os números foram suficientes para recuperar as vagas perdidas em 2015. “No setor de couro e calçados, por exemplo, houve um crescimento de 1.071 empregos, a exportação foi um fator positivo para isso. Mas tinham sido perdidas 7.656 vagas em 2015”, ressalta Silvia Horst Campos, do Núcleo de Análise Setorial da FEE. No Brasil, a redução no emprego formal foi de 1,32 milhão de vagas, segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). Entre os setores que apresentaram retração na produção física no Estado em 2016 estão áreas como produtos químicos (-0,24%), máquinas e equipamentos (-1,74%), produtos de metal (-4,95%), artefatos de couro e calçados (-0,26%), veículos, reboques e carrocerias (-9,97%), derivados do petróleo (-10,11%), móveis (-11,06%), borracha e plástico (-7,05%), e fumo (-30,99%) - este último, influenciado pelos resultados ruins da safra.
Os destaques positivos foram a fabricação de celulose, papel e produtos de papel (com crescimento de 33,81%), metalurgia (3,51%) e produtos alimentícios (1,29%). Dentro do contexto nacional, o Rio Grande do Sul apresentou o quarto melhor desempenho em termos de variação do volume de produção industrial no ano passado. Apesar da queda de 3,9%, o Estado ficou atrás apenas de Mato Grosso, Espírito Santo e Santa Catarina. São Paulo, o principal parque industrial do País, apresentou queda de 11% em 2015 e de 5,5% em 2016.
Ainda que de forma discreta, ano começa com sinais positivos para a recuperação da economia
Desde o início de 2017, alguns indícios apontam, ainda que discretamente, para a recuperação da economia brasileira e gaúcha. A Fiergs informa que o Índice de Desempenho Industrial do Rio Grande do Sul registrou alta de 3,0% em fevereiro, na comparação com janeiro - com crescimento em indicadores como faturamento real, emprego e utilização da capacidade instalada. Também segundo a entidade, a Sondagem Industrial de março apontou uma melhora na atividade e o maior crescimento da produção do Estado nos últimos quatro anos - o indicador ficou em 57 pontos, em uma escala de zero a 100, na qual valores abaixo de 50 indicam queda.
Em nível nacional, o Índice de Confiança do Empresário Industrial alcançou 54,0 pontos em março - o maior nível desde janeiro de 2014 e 16,6 pontos acima do registrado no mesmo mês de 2016, segundo a Confederação Nacional da Indústria. A expectativa, segundo a Fiergs, é de estabilização do nível de atividade, redução da inflação e queda nos juros. Na política, a entidade considera que a aprovação da terceirização e da PEC do Teto “foram importantes para, por um lado, dar previsibilidade aos gastos públicos e, por outro, trazer segurança jurídica para o empresário”, segundo a Unidade de Estudos Econômicos.
No campo, a previsão de uma safra recorde - que pode chegar a 227,9 milhões de toneladas neste ano - motiva os investimentos e reflete diretamente no setor de máquinas agrícolas, que deve crescer 15% neste ano. No primeiro trimestre, conforme a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), as vendas de máquinas agrícolas e rodoviárias tiveram expansão de 41,1% em relação ao mesmo período de 2016. Outra área que mostra otimismo é a indústria automobilística: também de acordo com a Anfavea, a produção do setor aumentou 24% no primeiro trimestre na comparação com igual período do ano passado. As áreas de comércio e de serviços, embora ainda sofram o impacto de fatores como o desemprego e a queda de renda, também apostam em um ano melhor.
A liberação de parcelas do FGTS, por exemplo, poderá injetar cerca de R$ 1,5 bilhão no varejo gaúcho, pela projeção da Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas do Rio Grande do Sul (FCDL-RS). A expectativa é de que os resultados positivos devem aparecer no segundo semestre para o setor. Mas a conjuntura ainda sugere cautela. Para a pesquisadora Cecília Hoff, do Núcleo de Análise Setorial da FEE, ainda não há uma perspectiva de crescimento mais forte.
“Os investimentos vão demorar, porque ainda há capacidade ociosa (nas indústrias). Para impactar os empregos vai demorar. O ano pode ser positivo, mas o que isso irá significar? Se for pouco, não recupera nada, e não se vê condições para recuperação rápida”, ressalta a economista.
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