07/11/2014
Jornal do Comércio | jornaldocomercio.com
Geral
Clipado em 07/11/2014 08:21:53
Braskem espera acordo da nafta neste ano

Jefferson Klein

Apesar de Petrobras e Braskem terem assinado, em agosto, um aditivo ao contrato de fornecimento de nafta petroquímica mantendo os valores cobrados pela matéria-prima até o fim de fevereiro do próximo ano, a empresa privada espera acertar com a estatal um novo acordo antes do final de 2014. Segundo o gerente de relações institucionais da Braskem no Rio Grande do Sul, João Ruy Freire, as negociações continuam, e a expectativa é de que o acerto seja consolidado o quanto antes, para que se tenha normalidade na operação.

Apesar de admitir que se trata de uma grande e importante tratativa, Freire adianta que a Braskem "tem fé que se consolide ainda neste ano". O executivo argumenta que, com o término do processo eleitoral, o peso da questão política diminuiu e ganha força as condições do negócio em si. O gerente de relações institucionais lembra que, concluída a questão da nafta, será possível avançar quanto ao acordo com a Synthos. Essa companhia polonesa planeja construir uma fábrica de borracha sintética em Triunfo, cujo investimento será de cerca de R$ 380 milhões. Entretanto, depende do butadieno da Braskem, que é feito a partir da nafta.

"Espero que as coisas resolvam-se da melhor maneira possível", almeja o diretor da Associação Brasileira da Indústria de Embalagens Plásticas Flexíveis (Abief) e presidente do 1º Congresso Brasileiro do Plástico, Alfredo Schmitt. O empresário acredita que está se criando um ambiente, após eleições, mais favorável. Além disso, o dirigente enfatiza que o preço da nafta caiu no mercado internacional, o que pode contribuir para se chegar a algum consenso mais rapidamente. Ainda sobre o cenário posterior às eleições, Schmitt adianta que uma das bandeiras que será levantada pelo segmento do plástico é a volta da competitividade. Um dos fatores que pode contribuir para isso é a dilatação do prazo de recolhimento de impostos.

A divergência entre Braskem e Petrobras, que levou ao aditivo, é quanto ao novo valor a ser estipulado. O diretor da MaxiQuim Assessoria de Mercado João Luiz Zuñeda frisa que o Brasil tem custos de capital e de matéria-prima muito elevados atualmente. "Se aumentar ainda mais o custo da nafta, o que será da petroquímica brasileira?", indaga. Zuñeda destaca que a própria Braskem já está investindo em outras nações, como, por exemplo, no México. Ele também sustenta que o fato de ter passado o momento eleitoral facilitará as discussões, podendo ser encerradas antes do fim do ano.

Empresa importa insumo para driblar problemas de abastecimento

A Braskem importou matéria-prima no terceiro trimestre do ano para ampliar a taxa de utilização do polo petroquímico do Rio de Janeiro, único do País a ser abastecido com gás natural e não nafta petroquímica. Com isso, a Braskem "driblou" os problemas de abastecimento enfrentados junto à fornecedora Petrobras.

"O custo do produto importado é maior em função da logística, mas foi uma operação que pontualmente fez sentido. Havia capacidade ociosa e fizemos a importação, mas o volume foi pouco material", afirma o presidente Carlos Fadigas. Ele não revelou o volume importado, tampouco o valor pago pelo insumo e a diferença em relação ao preço da Petrobras.

A recuperação da taxa de utilização do polo fluminense foi acompanhada de melhoria dos indicadores operacionais do polo de Triunfo, onde foi realizada uma operação de manutenção no decorrer do segundo trimestre. Com isso, a Braskem conseguiu compensar a redução da oferta no polo localizado no ABC paulista, cuja operação de manutenção teve início em setembro.

No entanto, o efeito da variação cambial na linha financeira e a parada programada para atividades de manutenção e melhorias no polo petroquímico do ABC paulista pressionaram o balanço da Braskem durante o terceiro trimestre. A petroquímica anunciou, nessa quinta-feira, um lucro líquido de R$ 230 milhões no terceiro trimestre, o que representa uma queda de 42% em relação ao mesmo período do ano passado. No acumulado de janeiro a setembro, o lucro soma R$ 750 milhões, variação positiva de 48% sobre o mesmo intervalo de 2013.

Setor do plástico busca a diversificação para manter crescimento

O plástico já é um produto que pode ser encontrado em praticamente todos os lugares e funções. No entanto, ainda há espaço para crescer, como, por exemplo, com as chamadas embalagens inteligentes e o uso na medicina, com a impressão 3D. Essa foi uma das constatações feitas na quinta-feira durante o 1º Congresso Brasileiro do Plástico, realizado na Fiergs, em Porto Alegre.

O diretor executivo do Sindicato das Indústrias de Material Plástico do Nordeste Gaúcho (Simplás), Zeca Martins, destaca que o material é algo imprescindível na vida das pessoas. "Estamos tão acostumados que acabamos não percebendo isso", argumenta o dirigente. Para provar essa tese, foi colocada em frente ao prédio da Fiergs, durante o evento, uma casa de plástico, implementada pela empresa MVC. A estrutura, não inflamável e com 48 metros quadrados, foi levantada em apenas três dias. As paredes da moradia eram compostas por duas chapas de fibra de vidro laminadas que envolviam, como um sanduíche, um polímero não revelado em seu meio. Também foi exposto um esqueleto de ônibus, sem os seus componentes plásticos, para demonstrar quão o veículo fica incompleto sem essas partes. O diretor executivo do Simplás detalha que a dianteira e traseira do veículo são de plástico, assim como a espuma e o tecido dos bancos, entre outros elementos. De acordo com Martins, a tendência é de que, cada vez mais, o plástico se insira em outros segmentos da economia.

O presidente do congresso, Alfredo Schmitt, salienta que o avanço da tecnologia na área dos plásticos contribui para a melhoria da qualidade de vida e a redução do desperdício. O empresário cita o caso de uma embalagem que muda de cor quando o produto que envolve perde seu prazo de validade. Ao fazer isso, impede a leitura do código de barras. Outra curiosidade é o uso da impressora 3D, considerando como matéria-prima o plástico, na medicina. A professora de física da Universidade Federal de São Paulo (USP) Maria Elizete Kunkel informa que a tecnologia já está sendo empregada na ortopedia, próteses, odontologia e outras áreas. A principal vantagem dessa técnica é personalizar o produto que está sendo feito.

"No campo da saúde, temos pessoas com características diferentes e níveis de patologia distintos. Então, é possível fazer um dispositivo específico para cada pessoa, com um modo de produção mais fácil", explica Maria Elizete. Conforme a pesquisadora, o custo ainda é um obstáculo para difundir a solução, mas os preços vêm caindo, e ela acredita que, dentro de um prazo de cinco anos, a tecnologia poderá se difundir massivamente.

Já o diretor de tecnologia, qualidade, sustentabilidade e inovação da Tigre, Rogério Köhntopp, salienta que os materiais plásticos, aproveitados nas tubulações, podem ajudar a diminuir o déficit verificado atualmente no setor de saneamento. O executivo frisa que o tratamento de esgoto não chega à metade do volume gerado no País. "Se pensar que, a cada R$ 1,00 investido em saneamento, poderiam ser economizados R$ 4,00 em saúde pública, faz sentido que o saneamento básico seja uma prioridade", defende Köhntopp. O diretor da Tigre expõe como vantagens do plástico em relação a outros materiais a leveza, a fácil instalação e uma longa vida útil.

Todas as funcionalidades do plástico expostas ontem no congresso também visam a mudar um estigma que os produtos petroquímicos carregam. O presidente do Instituto Sócio-Ambiental dos Plásticos (Plastivida), Miguel Bahiense, aponta que, muitas vezes, a sociedade vê o plástico com uma imagem ruim, entretanto se esquece dos benefícios que o material traz. Além das questões econômicas e sociais, Bahiense recorda que o produto consome muito menos petróleo do que outros derivados. Segundo o dirigente, apenas 4% do petróleo extraído no mundo é utilizado na fabricação de plásticos, sendo que a maior parte é usada para o transporte. "E mesmo com essa eficiência, o próprio setor do plástico investe em uma maneira de se reinventar", ressalta o integrante do Plastivida.