Fosse a economia do Rio Grande do Sul um trem, a posição de locomotiva a puxar todos os demais setores certamente caberia à agropecuária. Foi dela o melhor resultado de acordo com os dados do Produto Interno Bruto (PIB) apresentados ontem pela Fundação de Economia e Estatística (FEE). A produção no campo apresentou um aumento de 7,9% nos primeiros três meses do ano em comparação ao mesmo período de 2016, tendo como combustível principal para essa arrancada o aumento de produtividade da soja, do arroz e do milho.
Graças a uma combinação entre condição climática favorável e aumento de área plantada, os bons resultados do agronegócio se refletiram no crescimento de 2,5% do PIB do Estado em relação a janeiro, fevereiro e março do ano passado. Bem acima do ínfimo resultado geral do Brasil, que registrou aumento de apenas 0,3%, mesmo com a produção nacional de grãos tendo evoluído mais do que a estadual no período.
Embora seja um levantamento que não aponte números regionalizados ou por municípios, os resultados podem dar uma ideia do fôlego econômico de Pelotas e da Zona Sul. Especialmente por conta da vocação agrícola. "A região se beneficia, por exemplo, do crescimento médio de 16,5% na produção do arroz, que também aumentou em média 12,4% a colheita de toneladas por hectare", explica o economista Roberto Rocha, coordenador do Núcleo de Contas Regionais (NCR) da FEE, responsável pelo estudo.
E engana-se quem pensa que os bons resultados da agropecuária ficam restritos aos bolsos dos produtores e trabalhadores da zona rural. Com mais renda sendo gerada na zona rural, o dinheiro passa a circular também nas cidades. Sobretudo no comércio. Após dois anos e meio de resultados negativos, a atividade apresentou avanço de 2,9% no último trimestre, impulsionando o resultado positivo do setor de serviços. Atividades como lojas de tecidos, vestuário e calçados (+19,4%), eletrodomésticos (também +19,4%) e veículos e peças (+15,1%) são exemplos de para onde vai grande parte da riqueza.
NEM TUDO SÃO FLORES
Dentre os setores que integram o estudo divulgado pela FEE, coube à indústria a notícia negativa. Em todo o Estado, a produção caiu 0,3%, já acumulando um revés de 0,7% no ano. Apenas um segmento industrial não ficou no vermelho: a indústria da transformação. O que, de certa forma, ao menos para a Zona Sul é alentador, já que aí se enquadram as fábricas voltadas aos alimentos.
Por outro lado, a construção civil despencou 6,8% e é fator de preocupação à economia pelotense. Para Rocha, é um reflexo claro da crise financeira pela qual passam todas as esferas de governo, obrigadas a cortar investimentos em obras públicas.
Para os próximos seis meses, a tendência é de que o perfil dos índices de colaboração de cada setor no PIB seja bem diferente. Enquanto no começo do ano o agronegócio atinge seu ápice, no terceiro trimestre são as indústrias que costumam atingir seu pico produtivo. Já o final do ano é período fértil ao comércio, devido às compras de Natal e Réveillon.
Colocando na balança, o coordenador do estudo da FEE aponta para um cenário com viés positivo. "Se as condições econômicas continuarem se estabilizando poderemos continuar com taxas positivas e fechar o ano com resultados melhores que nos anos anteriores", projeta Rocha.
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