15/02/2017
Jornal do Comércio
Economia | Pág. 9
Clipado em 15/02/2017 04:02:36
Queda na Selic pode não ser repassada ao consumidor

Embora a queda na taxa básica de juros iniciada pelo Banco Central (BC) no fim de 2016 gere expectativa na economia, é possível que, para pessoas físicas, a redução não gere impacto tão grande. A previsão se baseia no fato de que, em 2016, mesmo com as variáveis estabilizadas ou em queda, o spread bancário não acompanhou a tendência. Um dos motivos seria a nova postura dos bancos federais, que passaram a ofertar taxas em linha com os privados.

O papel do spread bancário, que é a diferença entre os valores que os bancos pagam pelos recursos e os valores pelos quais eles emprestam, é importante pois compõe, junto com a Selic, o total da taxa de juros que será ofertada pelos bancos, lembra o economista da Fundação de Economia e Estatística (FEE) Bruno Paim. Os fatores que compõem o spread já dariam motivos para uma queda desde o ano passado. A meta da Selic, por exemplo, que é o piso para a tomada de recursos, se manteve estável em 14,25% ao ano entre julho de 2015 e outubro de 2016, quando iniciou queda até os 13% atuais a expectativa é que ela chegue a 9,5% até o fim de 2017.

Ao mesmo tempo, entre janeiro e novembro, o spread médio das operações de crédito para pessoas físicas passou de 27% para 33%. Na visão de Paim, a explicação só poderia passar pela questão da concorrência. Em 2012, quando Caixa e BB admitiram que atuariam com o propósito de combater o spread dos bancos privados utilizando taxas mais baixas, os bancos públicos tinham por volta de 43% no total do crédito do sistema financeiro. Em quatro anos os estatais alcançaram uma participação de 55%, ajudando a conter o spread médio.

Já com o novo foco das instituições federais em garantir a lucratividade dos negócios, ambos aumentaram suas taxas, atingindo patamares mais próximos aos bancos privados. No mês passado, por exemplo, a Caixa cobrava mais de 550% ao ano, acima de várias instituições privadas. Outro ponto que pode dificultar uma retomada no consumo é o nível de comprometimento da renda das famílias com a amortização das dívidas. Em 2012, era de quase 60%, e agora é de 52%. Ou seja, as famílias estão pagando mais juros, e, assim, diminuindo em menor velocidade o saldo das suas dívidas.