Após vários meses de relativa estabilidade, abril marcou um pequeno salto na taxa de desemprego da Região Metropolitana de Porto Alegre. Segundo os dados da Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED-RMPA), o indicador chegou a 11,3% no mês, crescimento considerável em relação aos 10,8% vistos em março e primeira vez desde setembro que a taxa chega à marca dos 11%. O cenário visto no mês é, de certa forma, o mesmo que se repete desde o início da crise: há menos gente trabalhando, mas há também, ao mesmo tempo, menos gente no mercado de trabalho, o que ajuda a conter a taxa. A População Economicamente Ativa (PEA), que engloba todos os trabalhadores ocupados ou procurando ocupação, caiu 1,5% em abril, totalizando 1,796 milhão de pessoas.
Com isso, a taxa de participação, que calcula os ativos em relação aos habitantes com 10 anos de idade ou mais, caiu a 50,5%, o menor valor de toda a série histórica. Mesmo com os trabalhadores saindo do mercado de trabalho, porém, o desemprego cresce porque a queda no número de ocupados é ainda maior. Ao todo, 34 mil vagas foram eliminadas, queda de 2,1% sobre o número total de ocupados. No fim das contas, foram 6 mil desempregados a mais em abril, um aumento de 3%, totalizando um contingente de 203 mil pessoas desocupadas na Região Metropolitana de Porto Alegre. Embora sigam a tendência dos últimos meses, os dados de abril chamaram a atenção dos pesquisadores quanto à composição do desemprego.
Um dos pontos, por exemplo, é que, como o desemprego aberto se manteve praticamente estável (passou de 9,8% para 9,9%), é possível concluir que a taxa cresceu principalmente no que se chama de desemprego oculto – aqueles trabalhadores que ou recorreram ao trabalho precário, os famosos “bicos”, ou que desistiram da procura por uma vaga por desalento quanto à chance de efetivamente consegui-la. “Tivemos também uma redução na indústria, que vinha de resultados positivos e, em abril, mostrou uma grande retração”, comenta Iracema Castelo Branco, economista da Fundação de Economia e Estatística (FEE), uma das instituições que realiza a PEDRMPA.
O número de vagas no setor fabril caiu 13,6% no mês, eliminando 38 mil postos de trabalho. Segundo Iracema, ainda não é possível afirmar se a queda é pontual ou marcará o início de uma trajetória de cortes na indústria da região. Já em relação às posições, a maior parte dos cortes continuou vindo das vagas mais qualificadas, no setor público (-2,8%) e entre os assalariados com carteira assinada do setor privado (-3,8%). Em contrapartida, as mais precárias, como autônomos (+3,6%), empregados domésticos (+2,9%) e assalariados sem carteira assinada (+1,1%) cresceram em abril.
O dado positivo, porém, ficou por conta dos rendimentos médios dos ocupados, que, embora ainda muito abaixo dos patamares de 2015 e até de 2016, cresceram 0,5% em março (a pesquisa sobre os salários é feita em relação ao mês anterior). Entre os assalariados, o aumento foi ainda maior, de 1,5%, chegando aos R$ 1.867,00. Entre os autônomos, porém, o valor continuou a cair, chegando aos R$ 1.578,00 (-3,4%). “Percebe-se uma tendência das pessoas de fugirem para estratégias de sobrevivência, como o trabalho autônomo, que não geram riqueza. Quanto mais gente recorre a essa saída, mais se divide o bolo, e mais a renda média cai”, alerta Lúcia Garcia, economista do Dieese, outra das entidades que promovem a pesquisa.
DESEMPREGO NA RMPA (EM MIL PESSOAS) (Ver imagem)
País soma 14 milhões de desocupados, calcula o IBGE
A taxa de desemprego subiu a 13,6% no trimestre encerrado em abril, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua Mensal divulgados ontem pelo IBGE. Com isso, o número de desempregados ficou em 14 milhões, uma alta de 23,1% em relação ao mesmo período do ano passado o que corresponde a um acréscimo de 2,6 milhões de brasileiros à fila de desempregados, na comparação anual. Em relação a janeiro, último dado comparável com a taxa de abril, houve alta de 8,7%, equivalente a 1,1 milhão de pessoas. No trimestre encerrado em janeiro a taxa havia sido de 12,6%. Já a registrada no período de fevereiro a abril de 2016 foi de 11,2%.
Apesar de ainda alto, o número de desempregados no País cresce mais lentamente, quando comparado ao ano passado. Em abril passado, a alta da população desocupada chegou a 18,6%, bem maior que os 8,7% registrados neste ano. Na comparação anual, a alta deste ano, de 23,1%, também é inferior à registrada no ano passado, quando o salto frente ao mesmo período foi de 42,1%. Mas a alta mais gradativa do número de desempregados pode não estar necessariamente relacionada a uma melhora do mercado de trabalho, explica Cimar Azeredo. O número de desempregados também pode estar caindo influenciado por pessoas que perderam o emprego e desistiram de procurar uma nova colocação.
“O que pode estar explicando a redução da desocupação? As pessoas estão desistindo de procurar trabalho. Podem ir para o lado de insuficiência de horas trabalhadas ou para o lado do desalento”, afirmou Cimar Azeredo. A população ocupada caiu 1,5% na comparação anual, para 89,2 milhões de pessoas. Ou seja, foram perdidos 1,4 milhão de postos de trabalho, na comparação com o mesmo período do ano passado. Na comparação com o trimestre encerrado em janeiro, a queda foi de 0,7%. A combinação entre a queda da ocupação e o aumento da desocupação resultou na alta da taxa de desemprego. O resultado de abril é inferior ao registrado no trimestre encerrado em março, que foi de 13,7%.
No entanto, o IBGE compara com o de janeiro por causa da metodologia chamada de trimestres móveis. O número de janeiro é o último sem interferência dos números de fevereiro e março. Na comparação com o ano passado, o número de empregados com carteira assinada recuou 3,6%, para 33,3 milhões de pessoas. Este é o menor contingente de trabalhadores com carteira desde o início da série histórica, iniciada em 2012. Considerando apenas os meses de abril, a taxa de desemprego de abril também é a maior da série histórica. O rendimento do brasileiro ficou estatisticamente estável, em R$ 2.107,00, tanto na comparação em relação ao trimestre anterior, como na comparação anual. Apesar da taxa ainda alta, os dados mostram alguns sinais de recuperação do mercado de trabalho.
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