Sob risco de apagões de energia em razão do aumento do consumo sem elevação da produção local, o Rio Grande do Sul estoca projetos de reforço com destino incerto. Investimentos represados em térmicas e hidrelétricas representariam avanço de 150% na potência instalada atual, reduzindo a dependência da geração em outros Estados.
Grandes projetos foram anunciados nos últimos anos no Rio Grande do Sul, quando a demanda ainda estava longe da capacidade máxima. A soma das propostas chega a 7,9 mil megawatts (MW), equivalente a uma vez e meia a potência instalada no Estado, de 5,1 mil MW. Poucos conseguiram passar do planejamento para se tornar investimentos bilionários (confira abaixo).
Com reservatórios de hidrelétricas abaixo do normal no país, o quadro remete ao período anterior ao racionamento de 2001. Até 20 de dezembro, o nível médio das barragens do Sudeste/Centro-Oeste era de 29,6%. Em novembro de 2001, chegou a 23%. O cenário preocupa ainda mais na ponta debaixo do mapa, onde o consumo cresceu acima da média nacional.
O risco de cortes pontuais está cada vez mais iminente. A única forma de ficarmos menos vulneráveis é aumentando a geração localreforça Carlos Farias, coordenador do Grupo de Energia da Federação das Indústrias do Estado (Fiergs).
A cada 1 mil MW gerados, calcula Farias, a dependência da energia de fora do Estado seria reduzida em 15%, considerando o limite máximo de atendimento de 6,4 mil MW. Hoje, 60% da energia consumida pelos gaúchos é gerada em outras regiões.
As maiores apostas para elevar a geração estadual se focaram em termelétricas a carvão. Antes de serem erguidas, porém, essas usinas foram excluídas dos leilões de energia do governo federal para não ultrapassar o nível de emissões de gás carbônico com o qual o Brasil se comprometeu perante outras nações.
O carvão é hoje o principal recurso energético do país. Não podemos ficar apenas rezando para São Pedrocritica Fernando Luiz Zancan, presidente da Associação Brasileira do Carvão Mineral.
As termelétricas geram o que, no jargão do setor, é chamado de energia firmeque pode ser produzida em situações críticas, ao contrário das eólicas, que dependem de vento.
Com o crescimento continuado da economia, o Brasil não poderá abrir mão de nenhuma fonte de energiaavalia o gerente executivo da Secretaria Estadual de Infraestrutura e Logística, Rui Dick.
A maior expectativa é em relação à binacional Garabi, na fronteira com Argentina, na fila de espera há décadas. Parada há três anos, a termelétrica AES Uruguaiana é o caso mais exótico e a esperança mais próxima. Construída, mas parada desde 2009, pode ser retomada em janeiro, com a volta do gás da Argentina.
Por que a geração local faz diferença
Também existe desperdício de energia entre a produção e o transporte. Por isso, a geração no local onde a energia é consumida reforça a segurança do fornecimento. Assim, se for possível gerar mais energia dentro do Estado, haverá menos riscos de cortes no abastecimento.
Em curto circuito
Hídrica
Binacional de Garabi, na fronteira entre Brasil e Argentina: projeto de mais de 40 anos prevê a construção das usinas binacionais Garabi e Panambi, no Rio Uruguai, com 2,2 mil MW de potência.
Situação: a Eletrobras e a estatal argentina Ebisa acertam detalhes para o início de estudos de engenharia, ambientais e de comunicação do projeto, que já enfrenta forte oposição. A expectativa é de início das análises no primeiro trimestre de 2013. No último dia 13, o Ministério de Minas e Energia aprovou o aproveitamento do Rio Uruguai, local previsto para a usina.
Carvão
MPX Sul, em Candiota: projeto do grupo MPX, empresa de energia do bilionário Eike Batista, a termelétrica teria capacidade para gerar 727 megawatts (MW). Investimento avaliado em R$ 3,5 bilhões. Situação: o projeto anunciado em 2007 tem licença ambiental desde 2010 e só aguarda liberação do governo do leilão de geração a carvão para iniciar as obras.
MPX UTE Seival, em Candiota: também do grupo MPX, teria capacidade para gerar 600 MW, com investimento de R$ 3 bilhões. Situação: tem licença de instalação e também espera autorização do governo para leilão a carvão.
UTE Pampa, em Candiota: térmica projetada pelo grupo Tractebel com capacidade para 340 MW e avaliada em R$ 3 bilhões. Situação: aguarda licença de instalação e liberação do leilão de energia a carvão.
UTE Jaguarão, em Candiota: térmica com capacidade de 1,2 mil MW projetada pela Star Energy, do grupo Bertin.
Situação: ainda não tem licença ambiental e aguarda liberação do leilão de energia a carvão.
UTE CTSul, em Cachoeira do Sul: térmica projetada pelo grupo CTSul com capacidade de gerar 700 MW. Situação: com licença ambiental e de instalação, o projeto está em fase de estudo de viabilidade técnica.
UTE Jacuí, em Charqueadas: projetada na década de 80, a termelétrica com capacidade de 350 MW já passou pelas mãos de diversos investidores. Situação: começou a ser construída e chegou a receber US$ 70 milhões em investimento da Companhia Riograndense de Mineração (CRM), do governo do Estado. Teve obras paralisadas e licença de instalação suspensa devido a problemas com investidores. Embora pareça ter sido abandonada diante do uso da área pelo polo naval do Jacuí, ainda há investidores interessados, conforme o governo estadual.
Gás
AES Uruguaiana, em Uruguaiana: construída em 2000, a termelétrica com capacidade de 650 MW interrompeu a operação em 2009, quando a Argentina cortou o fornecimento de gás. Situação: até porque a usina está pronta, já operou e só está paralisada por falta de combustível, é a que tem mais chances de fortalecer a geração gaúcha. A expectativa da empresa é que a termelétrica volte a operar em janeiro de 2013, conforme o Ministério de Minas e Energia. Faltam ser definidos pontos como a modalidade de comercialização da energia, pelos governos do Brasil e da Argentina, e pelas empresas da cadeia de fornecimento do gás. O investimento previsto para a retomada é de R$ 17 milhões.
Regaseificação de GNL, em Rio Grande: construção de um terminal de regaseificação de gás natural liquefeito (GNL) e de uma usina termelétrica com capacidade de 1,2 mil MW, projetada pela associação do grupo Bolognesi com o Fundo de Investimentos da Caixa. Os dois empreendimentos são avaliados em US$ 1,3 bilhão.
Situação: em estudo, aguarda garantia de venda da energia gerada em leilão. Investimento é considerado alto para gerar combustível sujeito à volatilidade do mercado externo.
Regaseificação de GNL, fábrica de fertilizantes e usina: terminal de regaseificação de GNL projetado por governo estadual, Sulgás, Petrobras, Hyundai e Samsung. O investimento, estimado em US$ 5 bilhões, inclui fábrica de fertilizantes e estuda uma usina térmica.
Situação: em fevereiro de 2012, foi assinado protocolo de intenções e acertado que em seis meses seria apresentado o projeto final do complexo, o que ainda não ocorreu. Ainda não há local para o terminal. Neste mês, um comitê formado por representantes do governo estadual, da Petrobras e da Sulgás se reuniu com integrantes das empresas na Coreia do Sul. Prazo para avaliação foi ampliado em um ano.
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